183 Fernanda Frizzo Bragato terra”. Acrescenta o antropólogo que “esses pontos geográficos estão em íntima relação com elementos da cosmologia, sendo fundamentais para o equilíbrio psicológico dos indivíduos que compõem essa comunidade” (Pereira, 2002, p. 83). As discussões sobre a terra indígena são, de muitas maneiras, inseparáveis das considerações de espiritualidade: A grande maioria das religiões indígenas, portanto, tem um centro sagrado em um determinado local, seja um rio, uma montanha, um planalto, vale ou outra característica natural. Este centro permite que as pessoas observem as quatro dimensões e localizem suas terras, relatem todos os eventos históricos dentro dos limites desta terra particular e aceitem a responsabilidade por ela. Independentemente do que aconteça posteriormente com as pessoas, as terras sagradas permanecem como elementos permanentes em sua compreensão cultural ou religiosa (Deloria, 1994, p. 67). A espiritualidade joga, assim, papel central na determinação de um local como terra indígena. Para Luciano (2006), um territorio indígena, que e condiço para a vida dos povos indigenas, se define como “o conjunto de seres, espiritos, bens, valores, conhecimentos, tradiçes que garantem a possibilidade e o sentido da vida individual e coletiva”. E acrescenta que “o territorio indigena e sempre a referencia a ancestralidade e a toda a formaço cosmica do universo e da humanidade. E nele que se encontram presentes e atuantes os herois indigenas, vivos ou mortos”. Por esse motivo, referindo-se especificamente aos Guarani e Kaiowá, Meliá, citado por Pereira (2002, p. 82), afirma que “sem tekoha não há teko”, ou seja, sem o espaço físico que reúne as condições ambientais necessárias para a realização do modo de vida guarani (tekoha), o próprio modo de ser guarani (teko), entra em colapso”. A garantia do espaço que reúne as condições que lhe permita pôr emprática sua organização social, cerimonial e ritual é condição de possibilidade para uma determinada comunidade indígena manter sua integridade cultural, manter-se como tal. Por outro lado, a falta de terras é um fator gerador da inviabilidade para a reprodução da cultura indígena (Pereira, 2002). Dito isso, a relação dos indígenas com os territórios habitados não é meramente econômica, no sentido de dele retirar o ne-
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