277 Martha Lucía Olivar Jimenez e Marcírio Barcellos Gessinger uma solução viável a curto prazo que tende a acumular contradições e tensões (Harvey, 2010). Considerando-se que a expansão futura da produção é a responsável por criar a demanda pelo excesso produzido anteriormente e que o crédito é indispensável para diminuir esse período temporal, é possível apontar que a acumulação com base no crédito é uma condição do capitalismo. Ou seja, o capitalismo tem de gerar e internalizar a sua própria demanda para sobreviver às pressões exercidas sobre si. Caso falhe, há lugar para crises. Nota-se, desse jeito, que crises são inerentes ao modo de produção capitalista e que as suas tendências jamais são superadas, porém remanejadas. David Harvey vai além e ressalta que não são apenas inevitáveis como também necessárias, visto que desempenham o papel de “racionalizadores irracionais” das contradições do sistema (Harvey, 2010, posição 1807). Uma das maneiras de expansão do capital, também, é justamente por meio do imperialismo (Lênin, 2021). Assim, as crises do capital, não raro, não se limitam a um espaço delimitado, mas se alastram por diversos Estados. A crise de 2008, por exemplo, começou nos Estados Unidos e no Reino Unido, tendo se espalhado por todo o globo, afetando especialmente países exportadores, como o Brasil (Harvey, 2010). Embora a crise tenha se propalado pelo globo, não o fez uniformemente, impactando economias de maneira desigual. Não se pode, então, ignorar as especificidades dos locais impactados. Ruy Mauro Marini frisa que “a economia latino-americana apresenta peculiaridades que se mostram às vezes como insuficiências e outras – nem sempre facilmente distinguíveis das primeiras – como deformações6” (Marini, 1981, p. 14, tradução minha). A economia latino-americana, com as especificidades de cada país, é dependente das economias centrais do capitalismo. Isso significa dizer que há uma relação de subordinação entre nações, formalmente independentes, em que as relações de produção das nações subordinadas são modeladas a fim de assegurar a reprodução dessa mesma dependência. Desde as suas independências, os Estados latino-americanos, por exemplo, tiveram a formação do 6 Original: “la economía latinoamericana presenta peculiaridades, que se dan a veces como insuficiencias y otras – no siempre distinguibles de las primeras – como deformaciones” (Marini, 1981, p. 14).
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