E depois dos desastres? Natureza e ciência: uma reconstrução assertiva

Além de perdas humanas: reflexões sobre os impactos do evento hidrogeoclimático e socioambiental na biota após o desastre 124 ção das águas e na proteção da diversidade biológica. Toda a biodiversidade, aquática e terrestre, incluindo a espécie humana. Nesse sentido, a preservação dessas áreas é fundamental na prevenção de extravasamentos de grandes volumes de água precipitados, podendo consequentemente atenuar os efeitos de enchentes e inundações. Protegidas e definidas como Áreas de Preservação Permanente pela Lei 12.651/2012 estas “faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular” (Brasil, 2012) que deveriam existir em no mínimo, 30 metros de largura mínima, foram jogadas aos planos diretores e às leis municipais, não sendomais obrigatório o cumprimento desta medida, alterada pela Lei 14.285/2021, colocando em risco suas existências, na dependência da “boa vontade” e interesse das administrações. Essa mudança provocou – e segue provocando – supressões significativas da vegetação nativa que margeia os cursos hídricos para dar lugar às construções, lavouras e pastagens, e essa realidade pode ser observada ao longo de boa parte da extensão de importantes rios e arroios em todo o território do Rio Grande do Sul. Das áreas mais atingidas, quando agrupadas por classe de cobertura e uso da terra, somente as formações florestais somam 108.065 hectares, representando 6,9% da área afetada em decorrência das chuvas extremas que assolaram o estado. Para a Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (BHRS), por exemplo, a área de floresta atingida foi de 5899.18/ ha, sendo que a parte danificada por enxurradas e deslizamentos representa 1617.38/ha (MapBiomas, 2024), atingindo principalmente a porção inferior da bacia, a qual abrange os municípios de Campo Bom até Canoas e é caracterizada pela alta densidade populacional e grande atividade industrial, ou seja, apresenta forte pressão antropogênica sobre os ambientes naturais (Fig. 2).

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