E depois dos desastres? Natureza e ciência: uma reconstrução assertiva

Além de perdas humanas: reflexões sobre os impactos do evento hidrogeoclimático e socioambiental na biota após o desastre 128 tal, onde ocorreu um acúmulo colossal de água, como nos parques estaduais de Itapuã e do Delta do Jacuí, além do Parque Municipal do Lami. Quando se fala em impactos ambientais na água e no sistema aquático, estamos fadados a pensar diretamente nos peixes. No entanto, o ecossistema abriga uma série de grupos taxonômicos que se relacionam de diversas formas dentro da água, incluindo peixes, plantas, invertebrados, anfíbios, répteis, e demais habitantes do sistema aquático. Os efeitos das enchentes para os humanos divergem dos que assolam as comunidades biológicas. Isso acontece, pois, as espécies de plantas e animais são mais dinâmicas e resilientes, por possuírem atributos que podem contribuir para a recuperação da comunidade após a catástrofe. As relações ecológicas que ocorrem neste ambiente são complexas e muito dinâmicas, o que torna as consequências das cheias sobre as comunidades biológicas muito particulares. A situação do estado de conservação de muitas espécies nestes grupos pode sofrer alteração, o que colocará as atuais listas de fauna e flora ameaçadas do estado e do país em um novo cenário, que deverá receber atenção e investimento do poder público para revalidação. Um caso bastante conhecido entre ecólogos é o do sapinho- -admirável-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus admirabilis). A espécie de anfíbio, que chega a cerca de 4 cm de comprimento, é encontrada apenas em um trecho de setecentos metros do Rio Forqueta, no município de Arvorezinha (RS). A espécie, da família Bufonidae, foi oficialmente descrita pela ciência no ano de 2006, quando recebeu o nome pelos pesquisadores Marcos Di-Bernardo, Raúl Maneyro e Hamilton Grillo. Na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) das espécies ameaçadas está listado como Criticamente Ameaçado (CR). O anfíbio é uma espécie restrita ao Sul da Mata Atlântica, bioma predominante das áreas afetadas pelas enchentes. É considerado endêmico da região, ou seja, a sua distribuição é limitada somente a esta área, que abrange uma pequena parcela do Rio Forqueta. Curiosamente, a área em que o sapinho-admirável-de-barriga-vermelha vive não é uma unidade de conservação estadual, ficando a espécie à mercê da intervenção humana. Arvorezinha decretou calamidade pública pelo evento climático de maio de 2024 no estado,

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