E depois dos desastres? Natureza e ciência: uma reconstrução assertiva

13 Júlio César da Rosa Herbstrith fia, sobretudo a pós-estruturalista onde se formou é um termo muito vago. Entretanto, para Didi-Huberman, um “filósofo da migração” como ele mesmo se define, um diálogo, no presente instante em que se realiza, pode ser influenciado por um conjunto de imagem que emergem justamente dos sonhos da noite que antecede o diálogo. Tal proposição está de acordo com a ideia de que as imagens são migrantes e potencialmente estão sempre em fluxo. Não possuem uma fonte, senão que muitas fontes. Didi-Huberman utiliza a analogia de um rio, a imagem como um rio commuitas fontes. Eis o problema posto, uma vez que as imagens estejam em constante migração como afirma o filósofo, não seria natural que em momentos de catástrofes sociais, como as que assolaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, a possibilidade de os sujeitos, mesmo os que experimentaram apenas as imagens do desastre, criarem as suas próprias memórias do desastre com base não inteiramente na experiência factual, mas na experiência virtual? Uma memória que não nasce do fato vivido, mas do evento apresentado pelas imagens organizadas pelo ambiente virtual, conforme as leis dos algoritmos que modelam as redes, e, por que não, as relações sociais. No dia 3 de maio de 2024 comecei a vagar por sonhos alimentados por imagens. Nunca imaginamos estar dentro de acontecimentos históricos, afinal, o cotidiano nos consome de tal forma que as coisas simplesmente acontecem e a vida segue. Na madrugada do dia 4 de maio, no meio de tantas imagens, textos e avisos, um alívio parcial ao saber quemeus irmãos eminhamãe tinham saído de casa. Parcial, porque saíramde casa sim, mas a água os seguiu, no ritmo que a ciência pode prever, mas que o desejo de imaginar uma realidade alternativa fez com que eles mesmos se encastelassem, se ilhassem em uma situação que se desdobra no trauma de ter que fugir e abandonar tudo que é material, ficando apenas com as memórias. As imagens que se presentificaram nos sonhos me acordaram, de tal modo que, desperto, só tinha uma coisa a fazer, continuar vagando pelas redes sociais, buscando por mais imagens e informações. O paradoxo do excesso, quantomais as imagens não davamas respostas, mais elas criavamas condições para a emergência de respostas, retroalimentando a busca. As informações eram apenas imagens que apresentavam o fato pela ótica da catástrofe, ou seja, imagens que geram engajamento nas redes sociais, mas que não informam com qualidade.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz