E depois dos desastres? Natureza e ciência: uma reconstrução assertiva

Além de perdas humanas: reflexões sobre os impactos do evento hidrogeoclimático e socioambiental na biota após o desastre 136 calizar seus animais, assim como muitos encontraram conforto em lares temporários, e felizmente, assim estão até hoje. CONSIDERAÇÕES FINAIS De ummodo geral, quando pensamos em uma biota regional, ou geograficamente limitada por um evento, as espécies normalmente desenvolvem quatro respostas às mudanças das características ambientais: se tiverem condições elas dispersam para outros locais, se não dispersarem, elas podem se aclimatar e se adaptar às novas condições (se forem plásticas o suficiente) ou em casos extremos, extinguirem-se localmente, sendo esse o pior cenário. Em uma recente publicação, Fagundes et al. (2024), estimaram que mais de 5 milhões de toneladas de sedimentos em suspensão foram aportados para o Lago Guaíba, do dia 27 de abril a 17 de junho de 2024. Esse montante é suficiente para encher com sedimentos cerca de 1.500 estádios do tamanho do Estádio Beira Rio em Porto Alegre. Podemos então imaginar que, além do fenômeno geológico do assoreamento da região do Delta do Jacuí e do Lago Guaíba, uma parcela intangível da flora e fauna dessas regiões, tanto de grupos aquáticos, como terrestres, foi atingida por esse volume imenso de partículas. Esses organismos foram deslocados mecanicamente, soterrados e mortos, pela quantidade de sólidos suspensos na coluna d’água. Eventos hidrogeoclimáticos não são novidade para muitas cidades e regiões, serão mais frequentes e, possivelmente, mais severos nos próximos anos. De acordo com a Plataforma Adapta Brasil (do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI), que traz dados sobre os riscos socioecológicos relacionados às mudanças climáticas, para o Rio Grande do Sul, apenas dez municípios apresentam índice “Muito alto” de vulnerabilidade da população aos impactos dos desastres geo-hidrológicos de inundações, enxurradas e alagamentos, e quando comparado comoutras unidades federativas, o estado apresenta um índice “Muito baixo” (0,32) numa escala de 0 a 1. O ano de 2024 certamente contribuirá, não de forma positiva, para mudanças nesses índices. Este capítulo se preocupou em trazer, de forma abrangente e por vezes reflexiva, alguns dos impactos relacionados à biota, in-

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