17 Júlio César da Rosa Herbstrith Figura 4: Caramelo no telhado. Imagem icônica de cavalo tentando sobreviver em Canoas- RS. Fonte: Site UOL – Cavalo Caramelo no telhado: como é feito o resgate nas enchentes do RS. A imagem acima correu pelo país e pelo mundo, símbolo da força e do desejo de sobreviver, o animal se comporta exatamente como qualquer animal, busca o espaço seguro como forma de autopreservação. A mesma vontade de viver que minha mãe e meus irmãos (e muitas mães e muitos irmãos) demonstraram ter quando ilhados, se jogaram dentro de barcos de resgate. São imagens que não existem, mas os relatos se multiplicam que se costuram às imagens correntes, pelas redes, ordenadas pela demanda do engajamento, para dar forma à catástrofe. A imagem aqui se transmuta em um “quase discurso” sobre a resiliência, palavra tão jogada ao vento, que deve ser tratada com cuidado. A resiliência tomada como forma “nobre” de se adaptar às circunstâncias adversas, pode, na verdade se transformar em um método de silenciamento ou amansamento das vozes que poderiam questionar como o sistema pode falhar tantas vezes com os sujeitos, sobretudo os sujeitos minorizados e periféricos. Não tenho imagens de minha mãe no barco, sendo resgatada, menos ainda dela, sendo içada por um lençol para que pudesse acessar a embarcação, uma vez que, por ter uma vida sem saúde, mas de muito trabalho, suas pernas, suas articulações foram comprometidas. O cavalo caramelo é mais conhecido que muita gente, que da mesma forma tentou salvar e ser salvo. Cavalos não contam
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