19 Júlio César da Rosa Herbstrith carros, um mar de carros submersos, assim como estas imagens, tantas outras foram geradas por Inteligências Artificiais na intenção de criar uma disputa pela narrativa oficial sobre o evento. Mais uma vez, uma guerra de imagens e discursos opera na construção de nossas memórias sobre o evento. A matéria que Isabela Aleixo publica no veículo UOL, de 31 de maio retoma o assunto da geração de imagens por IA para a construção de discursos sobre os acontecimentos massivos, o título desta matéria – “Imagens geradas por Inteligência Artificial reforçam fake news sobre enchente no Rio Grande do Sul”. Sobre as imagens geradas por IA, uma das mais emblemáticas nos encontrou nas ruas de Novo Hamburgo. Muito antes destamatéria de Aleixo, quandominha companheira e eu procurávamos um lugar para almoçar, em pleno domingo. Um cidadão nos interpelou na rua, ao darmos as informações que ele solicitou, ou ao menos indicar um caminho, ele arremata a conversa nos contando sobre a história de um conhecido dele que, “ao receber o pedido da filha para que ele [o pai] pegasse uma boneca que teria ficado boiando nas águas, o homem [o pai] se aproxima e ao tocar na boneca, percebe que era umbebê”. Esta história, é relatada na matéria de Aleixo. Conforme a autora, a história viralizou nas redes sociais. A única diferença era que o homem que supostamente puxou o braço do bebê não era o pai da menina que solicitou a boneca, mas um socorrista. Aleixo diz que não foi possível verificar a autenticidade do relato, mas que de fato nenhuma autoridade confirmou a história. Esta história ganha corpo em imagem, poderíamos dizer ganha espessura quando uma imagem gerada por IA, de um bebê boiando começa a ser relacionada ao áudio que relata a história. Mesmo quem não presencia o evento, cria para si, uma imagem de fatos que talvez nunca tenham ocorrido. Outra história de desinformação, mobilizou o Exército em Canoas. O Exército ao receber a informação falsa de que uma barragem havia rompido, começou a evacuar as pessoas do bairro Mathias Velho, o mesmo bairro do Cavalo Caramelo. Só podemos imaginar o trauma que movimentou as pessoas a saírem às pressas, novamente, mas agora semmotivo real. Apenas podemos imaginar. As imagens no contexto de disputa por narrativas, geradas por IA, mas pensadas por humanos, criam um espaço de dúvida, de incerteza, podem ser letais, podem causar pâ-
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