Entre restos e memórias: uma reflexão sobre as imagens do desastre 20 nico, podem fomentar o trauma. É necessário olharmos através das imagens, entender a sua potência e pensar criticamente sobre elas. Imagens e memórias, o professor Iván Izquierdo, no livro “Memória” diz “O acervo de nossas memórias, faz com que cada um de nós seja o que é: um indivíduo, um ser para o qual não existe outro idêntico” (Izquierdo, 2011), em seguida acrescenta que também somos aquilo que desejamos esquecer. Mas este esquecer não é a perda da memória, mas um processo de seleção que faz com dificultamos, por algummotivo, o acesso às memórias que não desejamos ter. O autor Jaques Le Goff ao analisar conceitualmente os documentos e monumentos nas suas relações com a história, escreve sobre umamemória coletiva. Para o autor, os documentos emonumentos são osmateriais que se aplicamà estamemória coletiva. Segundo Le Goff o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, se não que uma seleção efetuada por aqueles que se dedicam ao estudo do passado. A História, por óbvio é uma construção dentro uma coletividade que se baseia nos documentos, já os monumentos são a herança deste passado coletivo. Mas e quando muito do que está sendo escrito, sofre agora um processo de seleção e edição em tempo real, realizada conforme a ordenação dos algoritmos? Quando as informações precisam ser checadas constantemente para que o processo de arquivamento e recuperação das informações possa no futuro garantir com maiores assertividades as conexões com os fatos realmente ocorridos, não estaríamos diante de um novo paradigma da memória? Dito de outra, forma a história se baseia em documentos oficiais, mas a memória viva, é uma construção coletiva, portanto, o advento das redes e das montagens e edições propiciadas no seu interior colocam o desafio de sabermos ler criticamente o que nos é apresentado em termos de imagens ou no sentido amplo semiótico de texto. Tentando fazer uma costura que pode parecer impossível entre a memória em seu aspecto fisiológico, discutida por Izquierdo e a Memória Social apontada por Le Goff, seria possível compreender que existem memórias, a do indivíduo que parte de um acervo único, e a coletiva que parte de contexto distintos e que passa por seleções. Entretanto, ambas passam por seleções, inclusive aquelas que queremos esquecer e aquelas que desejamos lembrar. Mas, as memórias são nossas? Se os sonhos não são mais o campo da livre associação, porque vivemos iconosfera organizada
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