O desastre climático do Rio Grande do Sul: violações aos direitos humanos e a invisibilidade dos desterrados ambientais 26 climática contemporânea. Vidas foram perdidas. A fauna e a flora sofreram impactos cujos tempos de recuperação são incertos ou, em alguns casos, talvez irreversíveis. O setor econômico registrou prejuízos que ainda reverberam meses após o evento e os sistemas de saúde, educação e segurança pública foram severamente sobrecarregados. Nesse sentido, o objeto deste capítulo é expor a violação aos direitos humanos ocasionadas durante as enchentes de 2024, provocando a reflexão sobre a invisibilidade dos desterrados ambientais, sua conexão com o racismo ambiental e a responsabilidade do Estado em situações de desastre. Para tanto, este capítulo é divido nos seguintes subtítulos: 1. O desastre climático no Rio Grande do Sul: uma catástrofe anunciada, no qual são abordadas as diferentes perspectivas do desastre; 2. Violações aos direitos humanos: perdas e dores que se entrelaçam, em que são destacados o abalo à direitos e a responsabilidade do Estado em situações de desastres; 3. Desterrados ambientais: conexões entre expulsão forçada, não-retorno, racismo ambiental e o papel do Estado na não repetição. Para tanto, a metodologia utilizada no presente estudo é de natureza qualitativa, exploratória e descritiva, estruturada no método dedutivo e com apoio na pesquisa bibliográfica e documental. O DESASTRE CLIMÁTICO NO RIO GRANDE DO SUL: UMA CATÁSTROFE ANUNCIADA Nos meses de abril e maio de 2024, o Estado do Rio Grande do Sul sofreu uma catástrofe ambiental sem precedentes, resultado das fortes chuvas que em algumas regiões passaram de 300 milímetros (mm) em menos de uma semana. Porto Alegre chegou ao volume de 258,6 mm em apenas três dias, tal valor correspondeu a mais de dois meses de chuva comparado ao normal climatológico dos meses de abril (114,4 mm) e de maio (112,8 mm) (Brasil, 2 maio 2024). O desastre foi devastador para o Estado e causou um impacto profundo na vida de aproximadamente 2.398.255 gaúchos, com 876.565 pessoas diretamente afetadas, comprometendo gravemente o bem-estar, saúde e segurança dos atingidos. Infraestruturas vitais foram perdidas, o que dificultou ainda mais os esforços de ajuda e recuperação. Registros apontam 183 mortes (115 homens, 60
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