E depois dos desastres? Natureza e ciência: uma reconstrução assertiva

39 Haide Maria Hupffer, Thaís Rúbia Roque e Agnes Borges Kalil criar um ambiente seguro, acabou por intensificar ainda mais a segregação desses grupos (Suarez; Bello; Campbell, 2024, p. 68). O desastre climático vivenciado comprova que a vulnerabilidade social é potencializada por esse tipo de evento, que acaba por reproduzir os ciclos de desigualdade e discriminação, distanciando a recuperação de famílias de baixa renda, que comumente vivem em áreas precárias e têmmenor capacidade de resposta aos impactos. O Cadastro Único, ferramenta de cadastro das famílias de baixa renda para que tenham acesso à programas sociais do governo federal, registrou um aumento significativo de novos registros estado Rio Grande do Sul após os eventos de 2024, indicando que muitos passaram a depender de assistência pública após o evento climático (Suarez; Bello; Campbell, 2024, p. 68). Dentre as populações específicas afetadas, destacam-se as que permaneceram em estado de hipervulnerabilidade durante a situação de desastre, iniciando pelas mulheres, que novamente foram vítimas da violência de gênero de forma aindamais intensa durante o desastre climático, sem acesso à ambientes seguros e itens de higiene básica, como absorventes e banheiros exclusivos, vindo a sofrer assédio e violência sexual nos abrigos, locais que muitas vezes não possuíam a estrutura para receber as denúncias ou atender ao pedido de socorro (Suarez; Bello; Campbell, 2024, p. 70). Durante a crise climática, em razão dos relatos de violência, o Ministério das Mulheres enviou ao governo do estado do Rio Grande do Sul o documento Diretrizes de Proteção às Mulheres e Meninas em Situações de Emergências Climáticas para fins de melhorar a assistência desse grupo vulnerável os crimes de violência cometidos (Brasil, 2024). Outro grupo que merece destaque são as crianças e os adolescentes que igualmente permaneceram expostas às formas de violência, inclusive a doméstica, a física e a sexual, bem como ao abalo emocional, como nos casos de isolamento em razão da separação dos seus familiares, tutores e amigos. Outro prejuízo suportado por essa população é a interrupção das aulas em razão da destruição das escolas pelas águas e deslizamentos de terra, além da precarização dos serviços de saúde e atendimento social, como o do próprio Conselho Tutelar (Suarez; Bello; Campbell, 2024, p. 70-71). Em razão da ausência de infraestrutura adequada para criação de abrigos temporários no momento do desastre, muitas escolas

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