47 Haide Maria Hupffer, Thaís Rúbia Roque e Agnes Borges Kalil bilizados não permitem a compra de uma casa adequada para atender diferentes necessidades, como pessoas com deficiência, crianças e idosos. Para outros a angústia é não saber até quando o auxílio do aluguel social será mantido, trazendo insegurança, sofrimento, depressão e medo sobre um futuro incerto (MAB, 2025).” Para além da dor das perdas materiais e imateriais, da violação aos direitos fundamentais e à sadia qualidade de vida, observa- -se em cada desterrado ambiental o sofrimento existencial, psíquico e físico da destruição do seu projeto de vida, da sua história de vida como álbuns de família, o medo da repetição, a perda da comunidade, a perda de objetivos sociais, como a moradia, o trabalho, a saúde, educação, o status social, perdasmateriais, econômicas e simbólicas, a perda das referências de vida, e tantas outras privações. O sofrimento é potencializado quando as famílias precisam ser removidas para abrigos, o que torna as suas vidas privadas totalmente desprotegidas e à mercê do olhar público, passam a ser continuamente vigiados e controlados, ocorrendo mais uma violação aos direitos humanos fundamentais. Nos abrigos provisórios, as famílias precisam se submeter a normas e rotinas que são impostas por uma estrutura eticamente distanciada, muitas vezes em locais inapropriados sem o mínimo de dignidade (Barbosa, 2019, p. 2020-225). A catástrofe ambiental atinge a população de forma desigual. As pessoas abrigadas e os bairros da periferia mais afetados denunciaram que a desigualdade socioeconômica está ligada ao racismo estrutural brasileiro, que reserva ao cidadão afrodescendente e à população mais marginalizada áreas de risco da periferia urbana. A erosão das condições humanas da existência já estava presente antes do desastre ambiental, visto que já conviviam com graves violações de direitos humanos, como o direito de moradia, de acesso à água potável, saneamento básico, saúde, educação e o direito ao meio ambiente equilibrado. Meses após o desastre do estado do Rio Grande do Sul, muitas comunidades vulneráveis conviviam com os resíduos, a lama e os dejetos da tragédia, a falta de água potável e energia elétrica. Viver em casas de madeira fina e telhados de zinco, sem estrutura adequada, expõe os moradores às intempéries e violações de direitos. Quem reside em áreas de risco, como beira de rio e encostas, sofre diariamente com essa vulnerabilidade. Terrenos inseguros
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