E depois dos desastres? Natureza e ciência: uma reconstrução assertiva

49 Haide Maria Hupffer, Thaís Rúbia Roque e Agnes Borges Kalil CONCLUSÃO “Cenários de guerra” são as imagens que vão ficar na memória do povo gaúcho que foi de forma direta ou indireta impactado pela maior catástrofe ambiental ocorrida no mês de maio de 2024 quando cidades e bairros inteiros foram completamente destruídos, comprometendo a segurança, saúde, bem-estar, o princípio da dignidade humana, direitos fundamentais, gerando mortes, infraestruturas vitais completamente destruídas, impactando a vida de milhões de pessoas. Segundo dados do Relatório do BID foramatingidas certa de 582.638 moradias e 388.732 ficaram completamente destruídas, sem possibilidade de retorno. Os prejuízos estimados pelo BID foram de aproximadamente R$ 89,9 bilhões, incluindo perdas sociais, ambientais, infraestruturas e perdas do setor produtivo. Centenas de rodovias interditadas, cidades isoladas, interrupção de serviços essenciais como energia elétrica e água potável, interrupção de aulas, serviços de saúde e serviços públicos. O desastre também foi devastador para os animais e para a natureza. Mais de seiscentas mil pessoas precisaram sair de suas casas e passaram a integrar o fenômeno de desterrados ambientais. Abrigos foram improvisados para acolher cerca de setenta mil pessoas que perderam tudo e uma parcela muito maior foi acolhida em casas de parentes e amigos. O desastre foi muito mais devastador para as populações vulneráveis, mulheres, crianças, adolescentes, idosos e doentes. Quando em abrigos, além do sofrimento de perder tudo, conviviam estruturas precárias, sem privacidade, com abusos, racismo, violência sexual e falhas na segurança. Passados doze meses do desastre ambiental, milhares de gaúchos ainda estão sem casas, sem respostas e sem perspectiva sobre o futuro. As populações mais empobrecidas já conviviam com profundos desafios e perderam o pouco que ainda tinham e agora fazem do grande contingente de desterrados ambientais. Quem conseguiu voltar enfrentou outro cenário de destruição ao ingressar no que restou da sua casa: um cenário de lama, bens materiais destruídos, histórias de vida, documentos, álbuns de fotografias e lembranças enterradas pela lama. Por fim, pode-se dizer que o desastre climático de maio de 2024 ocorrido no estado do Rio Grande do Sul escancarou proble-

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