Discriminação algorítmica, Inteligência artificial, Hipervigilância digital e tomada de decisão automatizada

Inteligência Artificial: um “artefato” discursivo 118 1. INTRODUÇÃO Para a humanidade, a vida cotidiana só pode ser percebida e compreendida, em decorrência dos processos comunicativos, das linguagens e dos discursos. Os significados e valores linguisticamente engendrados conferem sentido e objetividade ao mundo (Berger; Luckmann, 2014). Desse modo, toda descoberta é um ato criativo, pois resulta do diálogo entre a materialidade do mundo e a subjetividade do observador. As palavras não são meras “portadoras” de sentidos. Elas participam da vida como produtoras e produtos das dinâmicas de convivência social, o que é muito diferente de assumi-las como receptáculos de pensamentos. Disso resulta que o discurso consiste no “efeito de sentidos entre interlocutores” (Orlandi, 2015, p. 20). Ao questionar se existe diferença entre um fenômeno e um discurso sobre ele, Skovsmose (2014, p. 9) afirma que, em geral, “o discurso constitui o fenômeno e passa a fazer parte dele. Diferentes línguas não apenas proporcionam diferentes visões de mundo, mas criam mundos diferentes também”. Isso porque a convivência humana só é possível “na linguagem”. Partindo destes pressupostos, o presente ensaio procura contribuir para a observação de fatores que participam da criação da Inteligência Artificial como artefato discursivo, ou seja, como produto de uma certa concepção de inteligência e de um contexto cultural cujo sentido não se reduz a evidência objetiva dos atributos do estado da técnica. Com a utilização da pesquisa bibliográfica, se pretende os seguintes objetivos específicos: a) estudar as possibilidades dos sistemas computacionais no desenvolvimento da sociedade humana; b) conhecer as características da computação como ciência e a inteligência artificial como área afim; c) analisar o movimento do autômato ao autônomo e da eficiência à inteligência. 2. COMPUTAR PARA “RESOLVER PROBLEMAS” Uma das ambições primordiais da humanidade diz respeito a certeza. Os conceitos são produto dessa ambição. Mosé (2011, p. 75) adverte que, ao criar o sistema de códigos da linguagem, o homem “[...] funda, também, as primeiras leis da verdade. Verdade é utilizar

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz