Discriminação algorítmica, Inteligência artificial, Hipervigilância digital e tomada de decisão automatizada

119 Alejandro Knaesel Arrabal e Wilson Engelmann corretamente os códigos, é obedecer a esta convenção”. Omesmo diz respeito a ordemmatemática. Assim, a verdade, inclusive lógico-numérica, não é fruto exclusivo de constatações, mas de convenções discursivas. A história da verdade é a história da necessidade humana de duração e previsibilidade (Mosé, 2011, p. 31). Há muito tempo, números e equações suscitam credibilidade, participando de concepções ideológicas e discursos de poder. Personalidades históricas de relevo relacionaram os números a perfeição e universalidade. Platão no século IV a.C. e Euclides no III a.C. vão destacar a geometria como linguagem para descrever e compreender a ordem do universo (Martins; Lopes; Darsie, 2023). A relação entre o Deus Cristão, a beleza e as proporções matemáticas expressas na geometria, foi marcante no medievo e na renascença. O frade Luca Pacioli, em sua obra “De Divina Proportione” publicada em 1509, considerou que a proporção “áurea” euclidiana era a prova da existência de Deus. Para ele, essa “proporção (razão) é uma e nadamais que uma. Segundo toda escola teológica e filosófica, esta unidade é o próprio epíteto de Deus” (Bertato, 2008). Galileo Galilei, em sua obra Il Saggiatore publicada em 1623, afirmou que: A filosofia está escrita neste grande livro que está continuamente aberto diante dos nossos olhos (refiro-me ao universo), mas não pode ser compreendida se não aprendermos primeiro a compreender a linguagem e a conhecer os caracteres em que está escrita. Está escrito na linguagem da matemática e os caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem as quais é humanamente impossível compreender uma única palavra; sem eles, é uma peregrinação em vão por um labirinto escuro (Galilei, 2020, p. 45, tradução livre, sem grifos no original). Leibniz acreditava na possibilidade de reunir todas as vocações religiosas, inclusive cristianizar a China, considerando a aritmética binária que, para ele, consistia na “imagem da criação”. Como Deus pode ser representado pela unidade e o nada pelo zero, ele imaginava que Deus tivesse criado o tudo do nada, assim como na aritmética binária todos os números se expressam por meio da unidade e do zero. Essa ideia agradava tanto a Leibniz que a comunicou ao jesuíta Grimaldi, presidente do Conselho de Matemática

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz