Inteligência Artificial: um “artefato” discursivo 120 da China, na esperança de que ele pudesse convencer o imperador chinês (que era muito ligado à ciência) e, indiretamente, toda a China ao cristianismo (Eves, 2011, p. 444). Rossi (2001, p. 143) comenta que a ciência moderna nasce “no terreno de uma análise capaz de abstrações, quer dizer, capaz de abandonar o nível do senso comum, das qualidades sensíveis e da experiência imediata”, o que se tornou possível a partir da matematização da física. Observa ainda que “neste aspecto, Galilei, Pascal, Huygens, Newton e Leibniz deram contribuições decisivas. Entretanto, no centro deste grande e complicado processo é preciso colocar a figura de Descartes” (Rossi, 2001, p. 143). Para Devlin (2004, p. 96), a matemática “é a ciência da ordem, padrões, estruturas e suas relações lógicas”, tornando “visível o que é invisível” em relação ao mundo fenomênico. Afirmações dessa ordem conferem à matemática uma condição epistêmica superior, na medida que, ao pretender revelar os padrões do mundo, confunde-se com o que representa a ambição da própria ciência moderna. Torna-se, assim, “a ciência das ciências”. Contudo, Borba e Skovsmose (2001), advertem que o emprego da matemática pode assumir a condição de instrumento ideológico de certezas, interferindo nos desígnios políticos da sociedade. Vemos a ideologia da certeza como uma estrutura geral e fundamental de interpretação para um número crescente de questões que transformam a matemática em uma “linguagem de poder”. Essa visão da matemática – como um sistema perfeito, como pura, como ferramenta infalível se bem usada – contribui para o controle político. Tal visão matemática não tem sua base no debate sobre os fundamentos da matemática [...] nem na discussão sobre os aspectos social e cultural da matemática [...]. Entretanto, é essa a visão usada pelos programas de televisão sobre ciências, pelos jornais e pelas escolas e universidades. Nesses ambientes, a matemática é frequentemente retratada como instrumento/estrutura estável e inquestionável em um mundo muito instável. Frases como “foi provado matematicamente”, “os números expressam a verdade”, “os números falam por si mesmos”, “as equações mostram/asseguram que” são frequentemente usadas na mídia e nas escolas (Borba; Skovsmose, 2001, p. 129).
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