Discriminação algorítmica, Inteligência artificial, Hipervigilância digital e tomada de decisão automatizada

Inteligência Artificial: um “artefato” discursivo 124 Na década de 1960 teve início a consolidação de laboratórios, departamentos e cursos específicos de Ciência da Computação. O primeiro Departamento norte americano dedicado ao tema foi estabelecido na Universidade Purdue em outubro de 1962 (Rice; Rosen, 2023). No Brasil, o primeiro Bacharelado em Ciência da Computação foi criado em 1969 (Instituto de Computação, 2020). Deste escorço abstrai-se que o conceito de Inteligência Artificial, enquanto produto discursivo, carrega os créditos da emergência da computação científica, considerada apta a formular modelos matemáticos, cuja instrumentaçãomaterial (amáquina digital) seria capaz de reproduzir a realidade fenomênica cognitiva. 4. DO AUTÔMATO PARA O AUTÔNOMO E DA EFICIÊNCIA PARA A INTELIGÊNCIA Automação representa um conceito estruturante para a computação. Trata-se da capacidade funcional de realizar uma tarefa de modo autorreferente, sem intervenção externa imediata. O vislumbre de máquinas realizarem funções operacionais de modo semelhante ao ser humano (física ou cognitivamente) levou a palavra “autonomia” ocupar facilmente o lugar da palavra “automatia”. Assim, não raro um equipamento autômato é referido como autônomo. A despeito da identidade etimológica que estas palavras nutrem, o caráter estritamente tecno-funcional que marcou a computação provavelmente contribuiu para este equívoco. Algo semelhante ocorreu em relação a palavra “informação”. Shannon publicou em 1948 o trabalho A Mathematical Theory of Communication, estudo que propôs o modelo adotado até hoje no campo das telecomunicações e da computação digital. Em sua teoria, Shannon dedicou-se a solucionar o problema da qualidade dos processos eletrônicos de comunicação, para o qual formulou um modelo matemático de codificação e decodificação de sinais baseado na álgebra booleana (The Bit Player, 2018). Sua teoria matemática possibilitou dimensionar, quantificar e, portanto, controlar de modo eficaz os processos técnicos de comunicação, sem relação direta com os aspectos semânticos relacionados as mensagens comunicadas. Informação, para a teoria de Shannon, não diz respeito ao

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