135 Andressa Kerschner e Haide Maria Hupffer sociedade inteligentemente ao acolher coletivos inteligentes. Contudo, em escala bem maior deve-se ter presente as relações depredatórias, de apropriação de dados e de poder que ganharam novo impulso com a Internet (Lévy, 2011, p. 128-130). Castells (2022, p. 87-88) compartilha que a humanidade no final do Século XX vivenciou um raro intervalo na história que se caracteriza pela “transformação de nossa ‘cultura material’ pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação”. Vivemos em um mundo digital em que a informação é gerada, armazenada, tratada, recuperada, processada com extrema velocidade e em um ciclo de alimentação cumulativo, transmitida instantaneamente e penetrando em todos os domínios da atividade humana. Para Castells (2022, p. 413-415), a transformação tecnológica possibilitou pela primeira vez na história integrar texto, voz, diferentes sons e imagem no mesmo sistema, possibilitando a interação entre pontos múltiplos, sembarreiras geográficas, no tempo escolhido, de alcance global emuma rede com acesso aberto e com preço acessível a grande parte da população. Segundo Hoffmann-Riem (2021, p. 26) o processo de digitalização da sociedade contemporânea promoveu mudanças sociais mais significativas do que àquelas oriundas do processo de industrialização, pois a transformação digital impacta diretamente na forma como os indivíduos vivem as suas vidas, bem como promove alterações significativas na política, educação, cultura e economia. A disseminação globalizada de informações com a criação de redes sociais e de novos serviços de comunicação viabilizou o desenvolvimento de novos sistemas de vigilância que são utilizados por empresas privadas e agências governamentais. Deve-se alertar, conforme Harari (2016, p. 332-333), que na sociedade digital do século XXI os algoritmos são transformados em “hackers da humanidade” e treinados para conhecer cada ser humano melhor do que ele mesmo se conhece. Na sociedade em rede, a autoridade sobre o conhecimento é transferida do ser humano para algoritmos. Os dados alimentam sofisticados sistemas que passam a substituir o ser humano em suas escolhas e decisões, monitorando todos osmovimentos, transformando o ser humano emum “Eu quantificado” e em uma coleção de sistemas bioquímicos, sacrificando sua autonomia, privacidade, liberdade e intimidade. Para uma sim-
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