137 Andressa Kerschner e Haide Maria Hupffer portanto, seus lucros”; em contrapartida, os governos coletamdados para fins de controle, gestão de recursos e segurança; da mesma forma que cientistas se utilizam de dados para fins de “aquisição e de aperfeiçoamento de conhecimentos”. Quanto ao indivíduo, ele compartilha seus dados quando utiliza serviços de organizações pública e privadas, quando compra produtos, ao interagir nas redes sociais e aplicativos da Internet. Os dados disponibilizados são armazenados eletronicamente, em uma espécie de banco de dados, que podem ser acessados por diferentes dispositivos e sistemas conectados à internet de qualquer parte do globo. Quanto mais o sistema se servir desses dados, mais refina e aperfeiçoa perfis comportamentais (Rouvroy; Berns, 2018, p. 111). Neste sentido, vale referir que todos os rastros deixados na interação com tecnologias digitais, desde dados pessoais, como também simples buscas de informações e conhecimentos, opções de séries, filmes, hábitos de pesquisas, interações com jogos eletrônicos, Internet das Coisas, dados comportamentais, vontades, desejos, cliques e interações em sites, anúncios e notícias, uso de medicamentos, desenvolvimento de atividades físicas e serviços de geolocalização são insumos de uma nova forma perversa de extração de dados, que ameaçam o livre desenvolvimento da personalidade, a liberdade e a privacidade. Em todas as interações citadas, o ser humano se desnuda perante a tecnologia e passa a ser um objeto de projetos econômicos lucrativos. Implacavelmente, a digitalização do mundo da vida submente a “uma mudança radical na nossa percepção, nossa relação com o mundo, nossa convivência. Ficamos atordoados pela embriaguez de comunicação e informação”. A humanidade está aprisionada em uma caverna digital e não se dá conta que confiou a sua liberdade, a sua autonomia e privacidade às empresas e governos que os mantém reféns em suas bases de dados. Não é mais a posse dos meios de produção que é decisivo na economia, mas sim a posse dos dados que possibilita controle e prognóstico do comportamento de consumo e do comportamento psicopolítico. A vigilância é agora realizada em redes abertas que coletam dados. A conexão vira vigilância e a dominação desse modelo ocorre quando liberdade e vigilância coincidem, quando se infiltra na vida cotidiana explorando a liberdade com estímulos positivos (Han, 2018).
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