Discriminação algorítmica, Inteligência artificial, Hipervigilância digital e tomada de decisão automatizada

139 Andressa Kerschner e Haide Maria Hupffer atividades que pareciam parcial ou totalmente opacas”, ela também produz informação. A partir do descobrimento dessa atividade peculiar, Zuboff (2018, p. 20) criou o termo “informate” (informar e automatizar), dado que para a autora apenas a “tecnologia de informação possui a capacidade de automatizar e de informatizar”. O estudo do texto eletrônico e as possibilidades circunscritas pela autoridade e pelo poder do mercado foi o ponto chave para a autora observar que quando se fala emmercado, o texto eletrônico “já se encontra organizado pela lógica de acumulação na qual está incorporado, bem como pelos conflitos inerentes a essa lógica”. Para Zuboff: A lógica de acumulação organiza a percepção e molda a expressão das capacidades tecnológicas em sua origem, sendo aquilo que já é tomado como dado em qualquer modelo de negócio. Suas suposições são amplamente tácitas e seu poder de moldar o campo das possibilidades é, então, amplamente invisível. Ela define objetivos, sucessos, fracassos e problemas, além de determinar o que é mensurado e o que é ignorado, o modo como recursos e pessoas são alocados e organizados, quem – e em quais funções – é valorizado, quais atividades são realizadas e com que propósitos. A lógica de acumulação produz suas próprias relações sociais e com elas suas concepções e seus usos de autoridade e poder (2018, p. 22). Essa percepção levou Zuboff (2018, p. 23) a observar que em cada época da história, o sucesso do capitalismo dependeu para prosperar “da emergência de novas formas de mercado que expressassem novas lógicas de acumulação mais bem-sucedidas na tarefa de satisfazer as necessidades sempre em evolução das populações e sua expressão na natureza cambiante da demanda”. A mediação por computador está presente no cotidiano das pessoas e organizações e pode ser traduzida “em uma nova dimensão simbólica à medida que eventos, objetos, processos e pessoas se tornam visíveis, cognoscíveis e compartilháveis de uma nova maneira”. Para a autora, é preciso reconhecer que frente ao fluxo de dados globais não é mais possível definir claramente quem decide e o que decide sobre os dados coletados, bem como o que pode acontecer se a autoridade falhar. Ao observar que há uma acumulação hegemônica nos espaços interconectados atuais, Zuboff (2018, p. 24) volta o seu foco para denunciar a exploração dessa nova forma de capitalismo que está instalada.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz