Discriminação algorítmica, Inteligência artificial, Hipervigilância digital e tomada de decisão automatizada

145 Andressa Kerschner e Haide Maria Hupffer 4. CYBERCONTROLE E A ARQUITETURA DO CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA Alguns acontecimentos emblemáticos demonstram como é fomentada a vigilância pelo capitalismo, seja sob premissas econômicas, por melhorias na prestação de serviços online, para a manutenção da segurança ou para a promoção de avanços no que se refere ao desenvolvimento de novas tecnologias e serviços. Ao deixar de ser um elemento acessório, o capital baseado em dados passa a ser a base das organizações e governos. Ferramentas de cybercontrole, baseados em algoritmos e sistemas de Inteligência Artificial para captar os rastros no ambiente virtual, são cada vez mais complexos e invisíveis aos usuários. Para além dos rastros nas diferentes conexões digitais, o ser humano do Século XXI é vigiado por bilhões de sensores que estão incorporados em diferentes objetos, dispositivos inteligentes que monitoram a casa, câmeras de vigilância instaladas em empresas, cidades, prédios públicos e privados e em espaços de laser, dispositivos vestíveis, nanopartículas e dispositivos que patrulham o corpo em busca de sinais de doenças, vigilância biométrica, carros autônomos e sistemas de geolocalização. Assim, se questiona: qual a relação do capitalismo com fontes de cybercontrole e por que a vigilância fomenta esse novo poder econômico? Segundo Zuboff (2021, p. 123), a extração de dados para além do aprimoramento dos serviços fornecidos na internet constitui o chamado “superávit comportamental”. Esse superávit de comportamentos no ambiente digital é o que alimenta a inteligência de máquinas e possibilita a criação de sistemas de Inteligência Artificial cada vez mais sofisticados e robustos. As predições comportamentais, ou seja, sistemas de IA para prever comportamentos futuros de usuários, serão vendidas “para empresas clientes em novos mercados futuros comportamentais”. Como se pode perceber, observa-se umciclo vicioso que é fomentado por sistemas de vigilância, extração e acumulação de dados desnecessários (a mais do que seria preciso) e da sua mercantilização. Dito de outro modo, quanto mais empresas “vão atrás dos lucros da vigilância”, mais produtos de predição são desenvolvidos (Zuboff, 2021, p. 125). Sistemas preditivos podem ser usados beneficamente para a humanidade para salvar vidas como na área médica, crimes e terrorismo. Contudo, quando usadas de forma nociva a análise preditiva é “essencialmente, amoral”. O principal

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