15 Paola Cantarini Na época moderna, ou pós-moderna, a vigilância do século XXI, caracteriza-se, por sua vez, pela sua natureza omnipresente, envolvendo uma “cultura da vigilância”, uma nova dimensão da vigilância, que agora conta com nossa participação voluntária, como exercendo um fator fundamental, e tendo por principal ingrediente os dados pessoais. Os smartphones, por exemplo, tornaram-se os dispositivos de vigilância predominantes devido à sua adoção generalizada, sendo sua capacidade de análise de dados usada pelas grandes empresas, entidades públicas e privadas e organismos governamentais para monitorizar indivíduos, muitas vezes mesmo sem quaisquer indícios de serem suspeitos. Entre as diversas obras de David Lyon destaca-se “Vigilância Líquida” escrita emcoautoria comZygmunt Bauman (Bauman; Lyon, 2014), sendo fruto de sucessivas trocas de mensagens, diálogos e atividades realizadas de forma conjunta, como as participações na conferência bianual de 2008 da Rede de Estudos sobre Vigilância. Os A. apontam para a nova fase da vigilância líquida, móvel e flexível, infiltrando-se e espalhando-se por diversas áreas das nossas vidas, sendo umaspecto cada vezmais presente, assumindo características sempre emmutação, diferenciando-se da antiga forma de panóptico estudada por Foucault e por Deleuze. Segundo Foucault, ao estudar as sociedades disciplinares, da regulamentação e normalização o panóptico é um dos principais instrumentos do poder disciplinar, ummecanismo de vigilância, que possibilita ver e nunca ser visto, produzindo o efeito de um estado de visibilidade constante. A arquitetura é pensada para que a luz passe. Tudo deve ser iluminado, tudo deve poder ser visto! Na sociedade da transparência, nada deve ficar de fora. Por sua vez, para Deleuze, as sociedades de controle, tal como dispõe em seu Post-Scriptum sobre as Sociedades de Controle caracterizam-se por máquinas de informática e computadores, como uma mutação do capitalismo. Nas sociedades de controle o essencial não émais uma assinatura e nemumnúmero, mas uma cifra: a cifra é uma senha. Os indivíduos tornaram-se “dividuais”, divisíveis, e as massas tornaram-se amostras, dados, mercados ou “bancos”. A característica do panóptico digital, no entender de ByungChul Han ao falar da “sociedade da transparência” é permitir o alcance globalizado dos ventos digitais transforma o mundo em um
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