219 Francisco Soares Campelo Filho detalhadas sobre os hábitos, localização, preferências e interações das pessoas (Solove, 2004). As vidas das pessoas estão sendo documentadas em dossiês digitais mantidos por centenas (talvez milhares) de empresas e agências governamentais. Solove aponta ainda que esses dossiês são compostos por pedaços de informações dos indivíduos pessoais, que quando reunidos começam a pintar um retrato de suas personalidades. Alerta ainda que os dossiês estão sendo usados para tomar decisões sobre as vidas dessas pessoas (Solove, 2004). É nesse sentido que surge a hipervigilância digital, em face de um constante e invasivo monitoramento das atividades online e offline dos indivíduos. Este fenômeno é facilitado por várias tecnologias, incluindo câmeras de vigilância, smartphones, dispositivos de Internet das Coisas (IoT) e algoritmos de análise de dados e de tomadas de decisões automatizadas (ADM). É sabido que empresas como Google e Facebook rastreiam o comportamento dos usuários para personalizar anúncios e serviços, resultando emvastos conjuntos de dados pessoais sendo coletados, analisados e negociados no mercado (Zuboff, 2019). Os dados e as informações sobre as pessoas são como um tipo commodities amplamente negociados no mercado. Zuboff aponta que “a escala de fluxo de matéria-prima reflete-se no domínio que o Google tem da internet, processando em média mais de quarenta mil consultas de busca a cada segundo: mais de 3,5 bilhões de busca por dia 1,2 trilhão de buscas por ano no mundo inteiro em 2017” (Zuboff, 2019, p. 114). Foi para manter essa hipervigilância e poder negociar dados e informações sobre as pessoas que empresas como Google e Facebook terminaram por colocar “muita pressão para eliminar a proteção privada on-line, limitar regulações, enfraquecer ou bloquear legislações que aumentem a privacidade” (Zuboff, 2019, p. 127). Essa hipervigilância é acentuada pelo fato de não só a inciativa privada, mas tambémos governos, realizarempráticas extensivas de vigilância das pessoas, sob a justificativa de segurança nacional e combate ao terrorismo. Como aponta Lyon (2014), as revelações de Snowden sobre a vigilância da Agência de Segurança Nacional dos EUA, a partir de 2013, como apoio das empresas de internet, aliada a todo o debate internacional que se seguiu, fornecem uma visão per-
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