409 Agnes Borges Kalil, Haide Maria Hupffer e Dailor dos Santos tando, pelo poder de rapidamente disseminar uma desinformação, as plataformas e sistemas de Inteligência Artificial com viéses algorítmicos podem exacerbar os danos e as radicalizações já existentes. Acrescenta-se, ainda, que a desinformação está fundamentalmente relacionada ao poder, o que exige examinar como os sistemas de poder operam no cenário digital (Kuau; Marwick, 2021, p. 3-4). Um exemplo de desinformação e seus efeitos foi o posicionamento adotado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia covid-19, o qual “citou a palavra ‘cloroquina’ em 30 tweets dos 1.461 tweets publicados no primeiro semestre de 2020”, sendo que, em contrapartida, as palavras “máscara” e “vacina” foram citadas 16 e 8 vezes, respectivamente (Furtado, 2022, p. 32). Apesar da Organização Mundial da Saúde, em 07/03/2020, ter declarado que a cloroquina não possuía comprovação científica no combate ao coronavírus, Bolsonaro publicou o primeiro tweet em favor do uso da cloroquina no tratamento da covid-19 em 26/03/2020. Ou seja, depreende-se da cronologia das publicações referidas que houve intenção no compartilhamento de desinformação por parte do ex-presidente (Furtado, 2022, p. 32). Esse é apenas um dos exemplos extraídos da dissertação de Furtado (2022, p. 107-109) intitulada Os mortos do capitão: a narrativa do presidente Jair Bolsonaro no Twitter em relação à COVID-19 durante o primeiro semestre de 2020, na qual 96,79% dos tweets analisados foram classificados como desinformação. Algoritmos programados para a produção automática de textos para disseminação de desinformação estão aumentando em ritmo alarmante com objetivos de polarizar opiniões e proliferar a criação de “filtros bolha”, pois pela automação é possível criar textos cada vez mais adaptados à diferentes perfis de leitores. Diante dos desafios da desinformação, a humanidade precisará ser ainda mais inteligente e crítica. Devem ser estabelecidos limites claros entre o que é informação e o que é desinformação. De igual forma, os modelos de negócios devem ser revistos e devem ser criados novos mecanismos para a atribuição de responsabilidade pela produção da desinformação. Na mesma linha, será necessário desenvolver uma cultura digital, para sensibilizar os atuais e futuros cidadãos, internautas e consumidores para que possam se posicionar criticamente sobre essa nova forma de vida na infosfera, aproveitando as vanta-
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