14 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 Pouco depois, os EUA lançaram a candidatura de uma pessoa cujas visões sobre direitos humanos poderiam estar alinhadas com as da administração Trump. Desde 31 de dezembro de 2017, último dia do meu mandato na CIDH, cidadãos dos EUA não compõem mais o grupo de Comissários da instituição. Talvez, em vez de simplesmente matar a Comissão por falta de recursos, os EUA busquem capturá-la por meio da eleição de uma maioria ultraconservadora, por não dizer reacionária, que se opõe aos avanços conquistados nas últimas décadas, especialmente em relação aos direitos ambientais, dos povos indígenas e das pessoas LGBTQIA+. Essa não foi a primeira crise financeira enfrentada pela CIDH. Uma crise semelhante ocorreu em 2016, no início do meu mandato como presidente da Comissão. Naquela época, a CIDH optou por denunciar a crise financeira em uma tentativa de pressionar os países da região a apoiar o Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH). Vale destacar que, até a data deste prefácio, a CIDH, embora continue negociando com o governo Trump, não se pronunciou publicamente sobre a decisão abrupta de cortar o apoio financeiro. Imagino que, se o fizesse, seria um posicionamento forte contra a inédita decisão dos EUA e as sérias consequências que ela terá para os direitos humanos dos excluídos do continente. Em 2016, a Comissão emitiu um comunicado claro e contundente. O título dizia: “Grave crisis financiera de la CIDH lleva a suspensión de audiencias e inminente pérdida de casi la mitad de su personal.” Ao mesmo tempo, em 23 de maio de 2016, publiquei um artigo no El País, sob minha presidência, intitulado Al borde del abismo: La Comisión Interamericana de Derechos Humanos se enfrenta a la peor crisis financiera de la historia. No entanto, essas crises financeiras não foram as únicas enfrentadas pela CIDH nos últimos anos. Na realidade, a crise tem sido um estado permanente para a Comissão. Entre 2011 e 2013, enfrentou uma crise política aguda, desencadeada por uma medida cautelar sobre o polêmico projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. O governo
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