15 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 brasileiro reagiu de maneira dura e, diria até, violenta, retirando seu candidato à CIDH, o embaixador e cortando o financiamento ao Sistema Interamericano. Os países da América Latina, menores em poder, viram uma oportunidade no vácuo criado pelo ataque brasileiro à Comissão e muitos buscaram preencher esse espaço. Durante dois anos, os órgãos políticos debateram formas de “reformar” ou melhorar o sistema, eufemismos para enfraquecer o sistema, tentando submetê-lo ao controle dos Estados. Ao estudar o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, é fundamental ir além das sentenças e relatórios que formam sua rica jurisprudência e analisar os aspectos políticos que sempre estiveram presentes e continuarão a fazer parte de sua realidade. Como a CIDH se adaptou e sobreviveu às crises anteriores? E como ela está respondendo às crises atuais? É justamente o que nos faz pensar o tema deste livro ao trazer à tona as crises passadas, mas também as novas, às quais o SIDH tem sido chamado a responder ao longo do tempo. No caso da crise da pandemia de covid-19, a situação é particularmente reveladora. Ao contrário das outras crises, a pandemia foi desencadeada por um choque exógeno, mas suas consequências e as reações do SIDH foram semelhantes às de crises anteriores. Elas nos ensinam sobre como o sistema responde à crise e como ele funciona diante de situações extremas. Na primeira parte do livro, o foco recai sobre as crises históricas que marcaram a América Latina e que, de alguma forma, ainda permanecem vivas. Essas “velhas crises” têm raízes profundas em períodos de autoritarismo, violência estatal e repressão institucional, refletindo modelos políticos e econômicos desiguais. O SIDH desempenhou um papel crucial na busca por justiça e reparação, especialmente por meio de mecanismos de justiça de transição, garantindo a memória, a verdade e a reparação das vítimas. Contudo, as respostas a essas crises revelaram-se limitadas quando se tratou de desmantelar as estruturas de desigualdade e exclusão, que persistem até mesmo em contextos democráticos.
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