Raízes e ramificações: a Justiça de Transição na América Latina em tempos de covid-19

16 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 A segunda parte do livro, por sua vez, aborda as “novas crises”, caracterizadas por sua natureza difusa e interconectada, alimentadas por fatores globais como a globalização neoliberal, o capitalismo financeiro e a destruição ambiental. Essas novas crises não se limitam a falhas nos sistemas democráticos; elas se manifestam como emergências que atravessam fronteiras nacionais e afetam principalmente os grupos mais vulneráveis da sociedade. A pandemia de covid-19 exemplifica uma crise que, embora tenha começado como uma emergência sanitária, revelou-se uma crise multidimensional, agravando desigualdades e expondo a fragilidade das estruturas de proteção estatais e privadas. Nesse contexto, o SIDH foi chamado a intervir, mas sua resposta demonstrou tanto a relevância quanto as limitações de suas ações diante de uma crise de tal magnitude. Embora este livro não trate diretamente da crise interna do SIDH desde 2016, é importante notar que essa é uma crise tanto interna quanto externa e deve ser encarada dentro do contexto mais amplo das crises que a região enfrenta. Para ser eficaz em suas respostas, o SIDH precisa primeiro superar sua própria crise interna, recuperando sua capacidade de intervenção frente aos desafios contemporâneos. Sua atuação não pode mais ser apenas reativa, focada na defesa contra retrocessos autoritários ou nas violências do passado. O SIDH precisa se renovar, adaptando suas estruturas, metodologias e práticas, desenvolvendo uma governança de direitos humanos que possa enfrentar de maneira ágil e integrada as crises regionais e globais, respondendo não apenas aos efeitos imediatos, mas também às suas causas profundas, antecipando riscos futuros. A presente obra propõe uma reflexão sobre como o SIDH deve se reinventar para lidar com essas novas configurações de crise, que são transnacionais e interdependentes, exigindo uma ação mais coordenada e proativa. O SIDH, para ser eficaz, precisa ser capaz de antecipar e mitigar as violências que surgem em um contexto global e regional fortemente influenciado pelos interesses privados e pela dinâmica predatória do capitalismo financeiro. A última parte do texto analisa o comportamento dos

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