Raízes e ramificações: a Justiça de Transição na América Latina em tempos de covid-19

207 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 A “Conquista do Deserto”, por sua vez, refere-se à nomenclatura dada ao período histórico no qual se sucederam, particularmente, duas campanhas militares, entre os anos 1874 e 1878, dirigidas à expulsão dos povos originários da região e apropriação de seus territórios. Ditas campanhas que culminaram, segundo Lenz264, em uma verdadeira devastação militar, que deixou como saldo caciques prisioneiros, milhares de índios mortos e outros tantos prisioneiros. Para “quem” serviram as referidas campanhas militares contra os povos originários na Patagônia argentina? O historiador e economista David Landes265, na obra sobre a riqueza e a pobreza das nações, explica a relação da economia da Argentina, no período, com a pecuária, que dependia de terras próprias e livres para as pastagens. Isso chamou interesse para a vasta região ao sul da província de Buenos Aires, território ocupado pelos povos originários, que não estavam nenhum pouco interessados no propagado progresso econômico, às custas de suas tradições. Tal progresso que, com o fim da escravidão, mantinha os indígenas na condição de dependentes dos fazendeiros. A resposta ao conflito, pelo governo argentino, dirigiu-se ao incentivo à imigração. Esse foi o pior legado da imigração: vastos domínios foram doados, atribuídos, cedidos à Igreja e aos homens de poder, sendo que o que sobrou foi confiscado pelo Estado. Conforme Landes266, “thus the 1879 campaign against the Indians (what the Argentines grandly described as la conquista del desierto, the conquest of the wilderness) was preceded and financed by land sales, some 8.5 million hectares going to 381 persons”. terras para atividades produtivas entraram para a literatura com a denominação de Campanha do Deserto ou La Conquista del Desierto” (LENZ, Maria Heloisa. O papel de La Conquista del Desierto na construção do Estado argentino, no século XIX. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 27, n. 2, p. 543-560, out. 2006. p. 7). 264 Ibidem p. 11. 265 LANDES, David S. The wealth and poverty of nations: why some are so rich and some so poor. New York; London: W. W. Norton & Company, 1998. 266 Ibidem.

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