Raízes e ramificações: a Justiça de Transição na América Latina em tempos de covid-19

238 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 interamericano de resposta que vá além do imediato. Diante da previsibilidade de novas crises, é essencial que o SIDH incorpore as lições aprendidas e atue de maneira preventiva, reforçando a proteção dos direitos humanos em cenários emergenciais. Em última análise, a pandemia não é apenas uma crise sanitária, mas uma crise de direitos humanos que exige ação contínua e vigilância constante. O SIDH deve permanecer ativo na defesa dos direitos humanos na região das Américas, ampliando suas respostas e garantindo que falhas passadas não se repitam. A colaboração entre os Estados membros e a construção de respostas solidárias, transnacionais e interdependentes será essencial para enfrentar as crises futuras, tanto as sanitárias quanto as de natureza política, social e ambiental. Reconhecer essas novas formas de injustiça – sanitárias, ambientais, econômicas, democráticas – implica também desvelar suas raízes estruturais, muitas das quais se entrelaçam com as dinâmicas de um capitaloceno global, que transforma corpos e territórios em mercadoria, sob a falsa neutralidade de um antropoceno que tudo homogeneíza. Nesse cenário, fortalecer respostas solidárias que transcendam as esferas do direito nacional, regional e internacional exige um compromisso cosmopolita com a proteção universal dos direitos humanos – uma ética das ramificações, enraizada na memória, voltada para a transformação. Finalmente, as relações entre as velhas e as novas crises revelam a complexidade e a interconexão dos desafios que enfrentamos como sociedade global. As respostas para as velhas crises, estruturadas por mecanismos como a justiça de transição, oferecem lições valiosas que podem, de fato, ser aplicadas para as novas crises, mas com adaptações necessárias. A análise do comportamento dos atores privados, especialmente das grandes corporações, durante a crise sanitária, demonstra a capacidade de certos setores de se aproveitarem das situações de vulnerabilidade para ampliar seus lucros, o que exige uma atenção redobrada à responsabilização e ao controle dos interesses econômicos em momentos de crise.

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