38 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 buída à história que aprofundou o processo de alienação cuja pretensão à neutralidade escondeu “o sentido político efetivo da crítica realizada na época, ou seja, a crise que ela invocava (a guerra civil) e a decisão política envolvida (a tomada de poder)”35. Então, para Koselleck, as guerras civis e as revoluções permanentes que cruzaram o século XIX e chegaram ao século XX na esperança de atingir objetivos utópicos não passaram de tragédias anunciadas. De fato, em seus textos dos anos 70 do século passado Koselleck alarga o campo dos estudos semânticos de crise. Os sucessivos significados dos conceitos, para ele, expressam práticas sociais e, inversamente, como essas práticas, condicionadas pelos conceitos, podem alterar o significado deles mesmos. Portanto, essas perspectivas da história social tratam as crises como fenômenos culturais, econômicos, políticos e sociais. A crise vem a ser, por isso, a ruptura ou o momento de decisão dentro das estruturas dos Estados ou dos governos, como acima apontado. Claro, depois das revoluções americana e francesa o termo crise foi vinculado à modernidade. Por isso, foi expandido para a economia e para outras esferas da vida social como a sociologia e a cultura. Koselleck afirma que considerada como “patogênese do mundo burguês”, nos séculos XIX e XX a palavra crise deixa de ter um sentido apenas político para assumir um sentido econômico. Por isso, ele recorre a Marx para explicar a crise tanto como um momento decisivo, quanto uma ruptura ou seja, um caso patogênico. Entretanto, mesmo em Marx, lembra Grespan36, houve um esforço para romper com qualquer determinismo econômico no qual estaria encerrada a noção de crise. 35 DUARTE, João de Azevedo e Dias. Tempo e crise na teoria da modernidade de Reinhart Koselleck. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 5, n. 8, p. 70–90, 2011. p. 81. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/312. Acesso em: 10 jul. 2023. 36 GRESPAN, Jorge Luís da Silva. História e historiografia das crises. Revista de História, n. 179, 2020. p. 10. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rh/a/GZRPw7m y9F6rqbVjT5bwX9n/?format=pdf. Acesso em: 1 jul. 2023.
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