39 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 A esses esforços para compreender o contexto de crise podemos invocar o pensamento de Edgar Morin que, ao olhar para os fenômenos produzidos nos anos 1970, identificou nas crises um revelador, sem estar preocupado se se tratava de definir velhas ou novas crises. É o que segue. 1.1.2 A crise como revelador e como antecipador em Morin Buscamos em um texto luminoso de Edgar Morin intitulado “Por uma criselogia”, a noção de crise. O texto, evidentemente, não está superado, ao contrário, dada sua radical atualidade, própria das obras atemporais de grandes pensadores, contribui enormemente com os esforços para entender as crises do tempo presente. Morin deixa claro que tratará de crise na perspectiva antropo-social-histórica. Essa é, para ele, uma exigência inexorável quando para entender o significado da palavra crise ultrapassa-se a ideia de perturbação e de ruptura de equilíbrio. Para assim entender, segundo ele, é necessário olhar o campo social como um sistema capaz de ter crises e considerar três ordens de princípios: a) sistêmico; b) cibernético e ; c) bionegentrópico. Edgar Morin, tal como o fez Koselleck, partiu da etimologia grega da palavra “krisis”e apresentou o seguinte paradoxo: se originalmente a palavra significava “diagnóstico” ou “decisão” para ele, parecia evocar a indecisão, o risco. Aqui Morin distancia-se de Koselleck que, como já demonstrado, vislumbrou a crise como consequência da crítica elaborada nos séculos XVII e XVIII sobre o regime político dessa época. Já para Morin, a crise tornou-se assim “o momento em que, juntamente com uma perturbação, surgem as incertezas” e os desafios para o futuro. Desse modo, segundo ele, a complexidade do mundo nos obriga a pensar que a crise tanto assemelha-se a um momento privilegiado de diagnóstico quanto um momento de grande incerteza ou ambos simultaneamente. Vinculada ao mundo econômico, torna-se mais fácil entendê-la na medida em que pode representar diminuição – da produção e do consumo – ou aumento – do desemprego e das necessidades –. Expandida para
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