40 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 outros domínios, como o da cultura e o da humanidade, para Morin37, ela perde seu “contorno”38. Morin apresentou dez componentes do conceito de crise: a) a ideia de perturbação; b) o aumento da desordem e da incerteza; c) o bloqueio e o desbloqueio; d) o desenvolvimento de feedback positivo; f ) transformações da complementaridade em concorrências e antagonismos; g) aumento e manifestações com caráter polêmico; h) multiplicação do double bind; I) desencadeamento de atividades de pesquisa; j) soluções míticas e imaginárias; l) dialética de todos os caracteres. Nossa intenção não é a de reproduzir todas essas características. Analisaremos o seu conjunto. O fim é o de realizar esforços para encontrar pistas que nos levem a entender as velhas e as novas crises. Essas características estão relacionadas com a procedente percepção de Morin de que a complexidade da sociedade, inevitavelmente, não apenas carrega as sementes de todas as crises mas, também, dado que expressa os constantes movimentos do corpo social, é alvo fácil das mesmas. Nota-se que para ele, em razão das nossas conhecidas insuficiências de introspecção, dirigimos nossas acusações e nosso reconhecimento apenas às perturbações externas, ou seja, ao que aos nossos olhos chega de fora, então, o acidente, a catástrofe natural. E no tempo presente, se apurarmos nossa vista, dirigimos nossa atenção a um vírus de origem desconhecida que, seguindo os passos de Morin, pode representar o elemento exógeno perfeito e sobre o qual poderíamos jogar todas as nossas acusações. Ao tratar da primeira característica, a perturbação, o autor nos faz refletir sobre a hipótese que brota do interior, ou seja, uma perturbação que gerasse uma sobrecarga do sistema, tal como a incapacidade de se autorregular e de gerir, ou até mesmo um bloqueio teriam a potencialidade de gerar uma crise. Em outras 37 MORIN, Edgar. Pour une crisologie. Communications, v. 91, n. 2, p. 135-152, 2012. p. 135. Disponível em: https://doi.org/10.3917/commu.091.0135. Acesso em: 10 fev. 2024. 38 MORIN, 2012, op. cit., p. 135.
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