Raízes e ramificações: a Justiça de Transição na América Latina em tempos de covid-19

47 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 De fato, as crises nos levam a perguntar: o que devemos às gerações futuras? Se temos uma responsabilidade para com as gerações futuras, devemos nos perguntar o que devemos a elas, segundo o que nos recomenda a ética. Simplificando, podemos dizer que a ética oferece três abordagens. Podemos ser minimalistas e entender que devemos deixar um planeta em que os humanos do futuro possam ter suas necessidades básicas respeitadas. Uma posição mediana dirá que as gerações do futuro deverão viver bem de maneira suficiente. Uma posição maximalista dirá que as gerações do futuro deverão ter iguais condições de vida aos que habitam nos países industriais do ocidente, conforme preconiza a Comissão Europeia no “Green Deal”, ou seja, o que seria uma guia para uma Europa neutra em termos climáticos53. As questões relativas à equidade geracional dizem respeito tanto à relação entre as gerações atuais e futuras (equidade intergeracional) quanto à relação entre as diferentes gerações que vivem hoje (equidade intrageracional). Como devemos agir, por exemplo, se nossos recursos financeiros são insuficientes tanto para combater a pobreza quanto para proteger o clima? E se a energia, devido à proteção do clima, se tornar tão cara que a mobilidade não esteja mais ao alcance de todos os grupos populacionais? Uma das soluções para os conflitos entre as exigências de equidade intergeracional e intrageracional poderá residir na introdução de medidas de redistribuição e reconhecimento, segundo os teóricos da justiça global54. Questão de desfecho incerto, que é objeto de uma problematização hesitante e 53 MEULI, Kaspar. Notre responsabilité face aux générations futures. Ittigen, Suíça: Office fédéral de l’environnement (OFEV), 2021. Disponível em: https:// www.bafu.admin.ch/bafu/fr/home/documentation/magazine/magazin2021-3/ magazin2021-3-dossier/notre-responsabilite-face-aux-generations-futures.html. Acesso em: 27 mar. 2025. 54 Veja-se: BEITZ, Charles. Liberalismo internacional e justiça distributiva. Lua Nova, São Paulo, n. 47, p. 27-58, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ ln/a/j3Qxb44Dd9ppKHvFvf7qnWk/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 23 abr. 2025.

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