Raízes e ramificações: a Justiça de Transição na América Latina em tempos de covid-19

53 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 no universo”71 e de não saber mais “que hierarquia estável de valores pode guiar minhas preferências.”72 O compromisso assumido para identificar uma ordem de valores que seja capaz de permitir uma identificação com uma causa que nos ultrapassa é, segundo ele, a “saída para a crise”73. O ponto essencial para uma boa compreensão dessa afirmação é o de continuar seguindo os passos de Ricœur. Para ele, é na estrutura temporal do processo de personalização que reside o aspecto central da crise. Nesse sentido, o compromisso acima referido, é, para Ricœur, o esforço dirigido para a “formação do futuro humano”74. Assim, “a crise nasce na encruzilhada em que o compromisso luta contra a tendência para a inércia, para a fuga, para a deserção”75. Mas para Ricœur, aqui teríamos um conceito indiferenciado de crise que, desde o início ao tratar dos conceitos geográficos, ele procurou evitar. De fato, como ele refere, se criarmos um conceito de crise válido para todos as circunstâncias, a esvaziaríamos do “valor discriminatório”76. Logo, “onde tudo é crise, nada é crise”77. A análise existencial de crise oferece pistas interessantes que mostram o laço entre crise e temporalidade, diz Ricœur. Então, é no plano da consciência histórica que pode ser aproveitado o que foi referido quanto à pessoa por encontrarmos exatamente aqui uma estrutura universal e, ao mesmo tempo, situada, determinada, concedendo um “conceito de crise que conserva traços universais, intemporais…”, mas que os oriente para uma caracterização correspondente à modernidade. Neste ponto, Ricœur volta-se para o Koselleck dos anos 1970 quando esse autor analisou os topoi transcendentais da consciência histórica, 71 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 12. 72 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 12. 73 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 12. 74 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 12. 75 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 12. 76 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 13. 77 RICŒUR, 1988b, op. cit., p. 12.

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