Raízes e ramificações: a Justiça de Transição na América Latina em tempos de covid-19

58 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 de”, no qual se torna incapaz de se adaptar. A consequência desta inadaptabilidade é o colapso. Esse fenômeno pode ser visto em diversas áreas, como crises econômicas, golpes militares ou espirais de violência. A crise segue um padrão universal de três fases: incubação, contágio e reestruturação87. A fase de incubação de uma crise é sutil e muitas vezes ignorada, pois envolve processos estruturais que não são imediatamente perceptíveis. Atores políticos e sociais tendem a minimizar sinais de tensão ou contradição, mantendo a expectativa de normalidade. Isso pode ser comparado a ignorar um mal-estar corporal até que ele se manifeste como febre. Da mesma forma, crises econômicas podem surgir do excesso de produtos não consumidos ou de transações financeiras desproporcionais à demanda real. No campo político, um golpe militar pode ser resultado de um acúmulo de tensões ignoradas. Já em contextos sociais, protestos estudantis, foram tratados superficialmente, sem perceber que anunciavam problemas futuros. Essa negação inicial simplifica o presente, mas pode levar a crises incontroláveis no futuro88. De forma enfática, Mascareño aborda a fase do contágio e diz que ela ocorre quando há uma explosão relacionada a tensões e contradições. Nesse momento, busca-se culpados, mas isso não interrompe a propagação da crise – pelo contrário, ela se expande e afeta até quem não está diretamente envolvido. A comunicação sobre a crise cria expectativas sociais e nos faz sentir parte dela, como acontece em crises políticas ligadas a fraudes e tráfico de influências. Esse fenômeno também ocorre com o terrorismo: após um grande ataque, governos tomam medidas que fazem as pessoas perceberem um perigo constante, transformando uma crise comunicativa em uma crise real89. No caso da pandemia de covid-19, ante à incerteza científica e à procura de “culpados” quanto à origem do vírus, no ano de 87 ROSAS; SEMBLER; TORRES, 2016, op. cit., p. 128-129. 88 ROSAS; SEMBLER; TORRES, 2016, op. cit., p. 129. 89 ROSAS; SEMBLER; TORRES, 2016, op. cit., p. 130-131.

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