65 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 – médica, psicofisiológica, cosmopolítica, científica e econômica – para esmiuçar suas diversas facetas. A crise econômica, para ele, extrapola eventos isolados, enraizando-se na mundialização do mercado e na ideologia liberal, com reverberações globais e culturais. A crise se mundializa, imbricando mercado e liberalismo com culturas e políticas diversas, transcendendo o econômico para atingir as representações sociais e as estruturas ideológicas. Em um contexto de crise global, como a dos anos 1970 ou da pandemia de covid-19, a ineficácia das respostas políticas em crises globais espelha a incapacidade dos Estados de lidarem adequadamente com crises sistêmicas e interconectadas, como a saúde pública, que aliada a uma ausência de uma governança mundial coerente amplificava a dimensão política e econômica das crises, apontando para a crescente desigualdade e as tensões globais. Finalmente, Mascareño oferece uma perspectiva sistêmica, concebendo as crises como fenômenos estruturais e interconectados, com dinâmicas subjacentes que se desdobram temporalmente. Ele postula um padrão universal em três fases: incubação (sinais negligenciados), contágio (disseminação e ampliação das consequências) e reestruturação (reformas ou catástrofes). Assim, Mascareño sugere que as crises expõem as vulnerabilidades dos sistemas sociais, como visto na pandemia de covid-19, que afetou as áreas de saúde, educação, trabalho e segurança social. Embora esses autores partam de premissas distintas, todos reconhecem que as crises atuais estão profundamente conectadas às dinâmicas de poder e à configuração das estruturas sociais. Koselleck vê a crise como um ponto de decisão entre alternativas extremas, enquanto Morin enfatiza sua capacidade de revelar a complexidade e a incerteza do sistema. Ricœur, por sua vez, coloca a crise no centro da condição humana, questionando sua permanência e suas implicações existenciais. Mascareño, ao focar nas fases e dinâmicas das crises, complementa as visões anteriores ao destacar a interdependência dos processos sociais e políticos. Juntos, esses pensadores oferecem uma análise rica e multifacetada das crises contemporâneas, destacan-
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