66 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 do tanto seus desafios quanto as possíveis transformações que podem emergir delas. Em síntese, a análise comparativa revela que, apesar das abordagens singulares, os autores convergem na percepção de que as crises não são eventos isolados, mas sim processos complexos e imbricados nas estruturas sociais e de poder. Essa pluralidade de olhares, longe de diluir a compreensão, a robustece, oferecendo um quadro teórico sólido para a investigação das manifestações concretas das crises em suas diversas dimensões. E, finalmente, ela prepara o caminho para que se compreenda o que pode ser considerado como “velhas crises”. 1.2 AS VELHAS CRISES Uma vez que a noção de crise foi abordada sob perspectiva multiforme no item 1.1, é preciso desenvolver com maior precisão a abordagem do que se pretende quanto à distinção de velhas e novas crises. Com esse objetivo, afirma-se que o processo de oposição ao regime absolutista, inicialmente pelos nobres e, posteriormente, pela burguesia, estabelece as variáveis conjunturais que foram replicadas ao longo do século XIX, XX e XXI para os fenômenos abordados como velhas crises. Como ponto de partida, tem-se a fundação do conceito de nação, conforme a leitura que Foucault desenvolve da obra de Henri Boulainvilliers (1658-1722).101 Ao elaborar registros históricos sobre a situação geral do Estado francês, da economia, 101 BOULAINVILLIERS, Henri. Histoire de l’ancien gouvernement de la France. Amsterdam, 1727. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=Do3A zQEACAAJ&printsec=frontcover&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 8 maio 2025. A data da publicação, 1727, é justificada porque houve um período entre o final do século XVII e o início do século XVIII em que a obra circulou de modo clandestino, sendo publicada de forma oficial apenas posteriormente, conforme GAHYVA, Helga. De Boulainvilliers a Tocqueville: da liberdade como defesa de privilégios à liberdade como defesa de diferenças. Sociologias, Porto Alegre, v. 14, n. 31, p. 177, set./dez. 2012. Disponível em: https://www.scielo. br/j/soc/a/cGjKhbT59LHG55SKWw8p8Fn/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 8 maio 2025.
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