71 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 veld. Trata-se de atingir um tal grau de destruição do ponto de equilíbrio do adversário que a reversão do dano não poderia mais ser reconquistada. Nas palavras do autor, “para começar, nossas forças devem ser adequadas: 1. Para obter uma vitória decisiva sobre as do inimigo; 2. Para fazer o esforço necessário para vitória até o ponto em que o equilíbrio esteja além de qualquer reparação possível”.115 O ímpeto de ataque até a aniquilação completa das forças inimigas fica ainda mais evidente no seguinte trecho: Se o ponto de equilíbrio do inimigo for danificado, ele não deve ter tempo para se recuperar. Golpe após golpe deve ser direcionado na mesma direção: o vencedor, em outras palavras, deve atacar com toda a sua força e não apenas contra uma fração da força do inimigo.116 Há uma explicação fundamental para a nova compreensão de guerra e a ampliação de seu poder destrutivo. Desde 1648 até o advento da Revolução Francesa, havia uma estrutura trinitária onde o governante exercia o comando das forças armadas; as forças executavam as ordens, lutando ou morrendo em batalha; e, por último, o povo era mobilizado para arcar com os custos. Porém, com o processo revolucionário francês, houve uma maior aproximação entre o povo e o governo a partir da legitimidade democrática, especialmente dos que tinham o maior controle da produção da riqueza a partir da concepção do voto censitário. A aproximação do povo com o governo permitiu uma ampliação do potencial militar e, por consequência, a extensão destrutiva dos conflitos. Trata-se da força da nação que é capturada e transformada em violência no campo de batalha.117 115 “To begin with, our forces must be adequate: 1. To score a decisive victory over the enemy’s; 2. To make the effort necessary to pursue our victory to the point where the balance is beyond all possible redress”. CLAUSEWITZ, 1989, op. cit., p. 597. 116 “If the enemy is thrown off balance, he must not be given time to recover. Blow after blow must be aimed in the same direction: the victor, in other words, must strike with all his strength and not just against a fraction of the enemy’s”. CLAUSEWITZ, 1989, op. cit., p. 596. 117 CREVELD, 2004, op. cit., p. 350.
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