75 RAÍZES E RAMIFICAÇÕES: A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NA AMÉRICA LATINA EM TEMPOS DE COVID-19 Nesse sentido, a soberania solitária121 adotada por grande parte dos Estados integrantes do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH), além de comprometer a garantia, proteção e promoção dos direitos humanos em âmbito nacional, impacta negativamente a própria população. Isso porque favorece o apagamento da história e promove uma reconciliação forçada daquilo que não pode ser reconciliado – como, por exemplo, os crimes de lesa-humanidade cometidos durante as ditaduras do sul global no final do século XX. As massivas violações de direitos humanos, aqui também compreendidas como velhas crises, não raras vezes resta(ra)m impunes. A fim de possibilitar a posterior análise dos clássicos pilares da justiça transicional enquanto mecanismos para enfrentamento das velhas crises, mergulhar no passado em busca dos períodos que ensejaram a necessidade de uma justiça de transição resta inevitável. A genealogia da justiça de transição remonta três grandes fases, a saber: a primeira fase, com o processo transicional no pós-guerra; a segunda fase, com a justiça transicional após o final da Guerra Fria e; por fim, a terceira fase, ao final do século XX, cuja caracterização se vincula à “aceleração da justiça transicional de fim de século, associada à globalização e tipificada por condições de marcada violência e instabilidade política”122. Em cada uma das fases, a justiça de transição evoluiu de sobremaneira, cumprindo destacar alguns elementos, que seguem. Na primeira fase, foi deflagrado o debate acerca de uma justiça nacional ou internacional após o período de guerra, considerando que o modelo de justiça adotado após a Primeira Guer121 SUPIOT, Alain (org.). La Solidarité. Enquête sur un principe juridique. Paris: Odile Jacob, 2015. 122 Trecho original: [...] el fenómeno de la aceleración de la justicia transicional de fin de siècle, asociado con la globalización y tipificado por condiciones de marcada violencia e inestabilidad política. TEITEL, Ruti. Genealogía de la justicia transicional. Harvard Human Rights Journal, Cambridge, MA, v. 16, p. 69-94, Spring 2003. Título original: Transitional Justice Genealogy. Disponível em: https://biblioteca. cejamericas.org/bitstream/handle/2015/2059/Teitel_Genealogia.pdf ?sequence =1&isAllowed=y. Acesso em: 14 fev. 2025.
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