XXI SEMINANOSOMA

Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 108 e respalda esta interpretação ao chamar atenção pelos resultados do Project on Emerging Nanotecnologies. No inventário de mais de 1000 produtos comerciais, deste Projeto do Woodrow Wilson International Center for Scholars em Washington D.C., apenas 5 foram listados na categoria de alimentos. Andrew Schneider, refletindo sobre o mesmo Congresso, conclui a partir das pesquisas apresentadas que as grandes empresas agroalimentares continuam o seu interesse na aplicação das nanotecnologias nos vários elos da cadeia de valor, mas agora não estão dispostas a admitir o seu envolvimento (Schneider, 2011; Sanderson, 2013). No final dos anos 90 e início dos anos 2000, as nanotecnologias foram vistas como um campo de conhecimento decisivo nas inovações que iriam definir a quarta onda industrial. Programas ambiciosos para a sua promoção foram estabelecidos nos Estados Unidos, na União Europeia e seus países membros, e na China, entre os países líderes. Um elemento comum aos programas dos países do “Norte” era o ob- jetivo de formalmente incluir o campo dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia neste Programas. Este cuidado foi explicitamente informado pelo reconhecimento da influência decisiva de respostas da sociedade civil, notadamente no caso de engenharia genética, onde os “transgênicos” enfrentaram forte oposição de diversos componentes sociais que limitaram as suas aplicações bem aquém das expectativas iniciais. No caso das nanotecnologias, os formuladores destas políticas acharam fundamental engajar os cientistas sociais desde o início para facilitar a aceitação destas inovações. Numa interessante reflexão so- bre esta postura, Macnaughton et al., (2005), acolhem a proposta de envolver os cientistas sociais ex-ante, mas rejeitam a função de pro- motor, bem como a visão mais convencional do papel destes cientistas em compensar o “déficit de conhecimento” do público, visto como o grande obstáculo à aceitabilidade de inovações. Rejeitam igualmente a noção que devem estudar apenas os riscos e impactos sociais das ino- vações uma vez difundidas, muito embora a caracterização destes seja decisiva para defender a necessidade de regulação. Contrariando estas perspectivas, os autores argumentam que as ciências sociais devem ter o papel fundamental de aumentar a autoconsciência dos próprios cientistas sobre as implicações das suas escolhas lá no início das fases de inovação. Assim, abre-se a perspectiva de uma revisão de rotas e objetivos nas etapas iniciais antes do surgimento de um lock-in tecnológico e institucional, (Grove-White; Macnaughton; Wynne, 2000).

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