Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 168 fracasso em si não é o maior dos riscos como no passado, uma vez que pode ter uma abrangência muito maior e imprevisível. Como exemplo, tem-se que a utilização de tecnologias que rapidamente se incorporam ao mercado e que não têm mecanismos de controle e reversão capazes de remediar adequadamente as possíveis resultantes negativas. Dessa forma, a complexidade do risco aumenta na mesma velocidade da evolução tecnológica sobre a qual se deposi- tam esperanças e confiança de um futuro provido de meios capazes de fazer frente a todos os riscos e necessidades de adaptação. Infelizmente não é assim. A sociedade global, do consumo e tecnológica vivencia uma nova dimensão dos riscos que cada vez mais se ligam a necessidade de adaptação. A complexidade é cada vez maior considerando que as novas situações criadas geram riscos que se somam aos riscos tradi- cionais. Ou seja, novas perspectivas de risco se somam as fontes tradicionais de riscos. A tecnologia nuclear é representativa desses riscos tradicionais que, infelizmente, ganha nova dimensão com as guerras entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e antagonistas do Oriente Médio. Somado a essa fonte de riscos, a utilização de tecnologias como a nano, a manipulação genética e a inteligência artificial, compõem um contex- to de múltiplas fontes de riscos. Eric Hobsbawm, em sua profunda análise do século XX, des- taca a singularidade de determinados períodos históricos, sendo que “gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer momento, e devastar a humanidade”8 Mesmo tão abrangentes, a ocorrência de tais eventos depende da ação humana direta, a qual pode, pelo menos em tese, ser controlada pela política. A corrida pelo desenvolvimento das armas nucleares é o mo- mento histórico recente e conectado à atualidade que melhor sintetiza a arriscada relação que o homem promove com sua intervenção no meio. Com a técnica é possível provocar mudanças significativas no meio desde um nível genético até a aniquilação de recursos ambientais vivos ou inanimados essenciais como a água. A formulação de uma Sociedade de Risco como descreve Ulrich Beck é cada vez mais atual, expondo sobremaneira “la tremenda vulnerabilidad de la naturaleza a la intervención técnica del hombre.”9 A intervenção humana pela téc8 HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. Tradução de Marcos Santarrita. 2. ed. Companhia das Letras, 1995. p. 224. 9 JONAS, Hans. El principio de responsabilidad. Barcelona: Herder, 1995. p. 32.
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