XXI SEMINANOSOMA

Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 180 dependência estabelece um paradoxo de desenvolvimento para o Bra- sil, ou seja, mesmo possuindo potencial para ser um dos principais atores globais no setor agrícola, a ausência de autonomia tecnológica e a dificuldade de assimilar avanços limitam a habilidade de utilização completa dessas tecnologias. Além disso, o acesso desigual a essas ino- vações pode ampliar as disparidades regionais, reforçando a concentração de renda e terras. Todas essas características mostram que o Brasil se encontra em uma fase muito semelhante à observada nos anos 1930-1940, qual seja, um grande exportador de commodities e importador de manu- fatura tecnológica. Mudam-se as culturas agrícolas e os aparatos tec- nológicos, porém, a lógica de deteriorização dos termos de troca, tal como preconizado por Raul Prebisch na década de 19401, permanece a mesma. 3. Mas, o que nos interessa de fato é o conceito amplo de sustentabilidade Como vimos, ao longo da história agrícola do Brasil, notada- mente no século XX, houve uma transformação em termos de aumento da produtividade, aproveitamento e recuperação de áreas agricultáveis e acesso a novas culturas agrícolas, até então limitadas a poucos cultivares. Até a década de 1930, o país era essencialmente rural, 80% da população vivia no campo, sob a influência de uma aristocracia rural nacional. O diagnóstico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) na década de 1940 apontava a necessidade de pro- moção de uma industrialização liderada pelo Estado (BIELSCHOWSKY, 2000). Para sustentar o processo de industrialização era necessário continuar gerando divisas, e a agricultura desempenhava esse papel. Todos os investimentos na área agrícola, quer na criação de Escolas Superiores, quer no âmbito do fortalecimento da Assistência Técnica e Extensão caminhavam na direção do objetivo contínuo da produtividade. Conforme já relatamos nesse ensaio, a “Revolução Verde” ateve-se a uma parcela reduzida de grandes produtores e a um nú- mero reduzido de cultivares, ampliando a concentração de terras a um número pequeno de grandes produtores agrícolas, ou seja, ummodelo insustentável e excludente. Hoje, o campo abriga aproximadamente 20% da população, e uma grande parte das terras ainda está concentrada nas mãos de poucas pessoas ou grupos empresariais, muitos deles estrangeiros (IBGE, 1 Para conhecer as teses de Raul Prebisch confira Bielschowsky (2000).

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