181 Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 2017). A despeito dos muitos avanços obtidos em relação à produtividade agrícola nacional, principalmente fomentados por instituições de pesquisa como a Embrapa, ANATER (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural) e Institutos e universidades brasileiras, pode-se dizer que os resultados se mostraram aquém do esperado, pois se asseverou a dependência de insumos e tecnologias importadas, muitos não acessíveis à boa parcela dos médios e pequenos produtores rurais. O conceito de sustentabilidade tem sido central na justifica- tiva de diversas inovações tecnológicas no agro brasileiro, desde a “Revolução Verde” até a recente adoção de inteligência artificial (IA). As promessas de maior produtividade associadas a essas tecnologias sempre vieram acompanhadas de um discurso ambiental, sugerindo que a intensificação da modernização agrícola poderia frear o desma- tamento e minimizar os impactos ambientais. Na “Revolução Verde”, defendia-se que o crescimento da produção rural nas terras disponíveis diminuiria a necessidade de alargar a fronteira agrícola, enquanto com a biotecnologia e a nanotecnologia, as promessas de aumento da produtividade e uso mais eficiente de fertilizantes e pesticidas reforçavam a ideia de uma agricultura mais “sustentável”. Mais recentemente, com a inteligência artificial, a ideia de um uso inteligente dos recursos, baseado em dados, reforça essa narrativa. Contudo, uma análise crítica desses discursos revela que o conceito de sustentabilidade utilizado é limitado e incompleto. Ele se concentra na perspectiva da produtividade do solo e no uso de insumos, uma visão que remonta às teorias econômicas de pensado- res como os fisiocratas e Adam Smith no século XVIII e David Ricar- do no século XIX, que colocavam a terra e a produtividade agrícola no centro das preocupações econômicas. Essa abordagem tecnicista da sustentabilidade, embora importante, não abrange as complexi- dades sociais, culturais e ecológicas que definem uma agricultura sustentável. Durante a “Revolução Verde”, a ideia de que aumentar a pro- dutividade por hectare reduziria o desmatamento e a degradação ambiental foi um dos principais argumentos para a adoção em massa de insumos químicos e da mecanização. Contudo, na prática, o resultado foi uma intensificação da monocultura, que, mesmo sendo eficiente em termos de rendimento por área, gerou sérios impactos socioambien- tais. A erosão do solo, a contaminação dos recursos hídricos e a perda da biodiversidade tornaram-se evidentes em diversas regiões do Brasil (GURGEL, 2024).
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