Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 28 a nossa transformação e a transformação de todas as coisas emmerca- dorias. Essa transição – que nos coloca na condição de “humanos em trânsito” – de uma atitude humanista a uma escolha racional “coincide com uma outra maneira de conceber e de apreciar a autonomia e o anonimato” (Harcourt, 2020). É o tempo dos controles sutis, do Estado de vigilância permanente, bem como o da instrumentalização e transformação profunda da economia do sujeito. A mundialização, assim, não escapa, antes espelha, essa desafiadora realidade, conforme abor- dado na terceira (e última) parte que segue. Parte 3. Mundialização entre humanização e hominização: a compatibilidade das diferenças A “grande transição”, como vista nas reflexões anteriores, está profundamente imbricada com a mundialização e com os desafios da humanização e da hominização. Conforme referido, é verdade que a mundialização agrava os riscos de desumanização (Delmas-Marty, 2013), seja pela persistência dos crimes globais, da crise ambiental e migratória, da subserviência às tecnologias de informação e comunicação, das crises pandêmicas e sindêmicas e das desigualdades estru- turais, nossas velhas conhecidas. Por outro lado, ela abre a via a novas perspectivas de humanização quando cria condições de possibilidade para a promoção e o desenvolvimento das interações globais. Não se trata, como já advertira Kant em sua proposta cosmopolita, de se criar um Estado mundial, tão indesejado quanto, fortemente, inviável, mas trata-se da abertura à perspectiva de interações plurais para o exercí- cio de uma humanização diversificada e recíproca. Teóricos da justiça global, como Seyla Benhabib (1992), têm alertado para a necessidade de diálogo entre a ética (dos contextos) com o universalismo (de princípios). De certo modo, a comunicação possibilita que os valores éticos, ainda que não sejam universais, possam ser universalizáveis na intercomunicação de culturas e saberes. Cuida-se, portanto, de pensar em uma humanização que seja pluralista e recíproca, sem uma uniformidade hegemônica, mas sim por simples aproximação e diálogo. Tal percepção já foi desenvolvida por pensado- res defensores da descolonização do saber e do diálogo promotor de contatos com outros saberes que circundam o mundo, como ensinou Frantz Fanon (1961). É interessante pensar que este método, ao questionar a com- preensão ocidental do mundo, na verdade, acaba por questionar a hegemonia desta compreensão e a necessidade de superá-la. Nesse
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