XXI SEMINANOSOMA

291 Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) veis no campo científico. O aspecto mais visível, talvez por ser o mais denunciado e noticiado são a abundância de fraudes na prática cientí- fico como plágios, adulteração de resultados, falsas autorias ou auto- rias pagas, bem como manipulação de revisão por pares em periódicos científicos. Além disso, temos o equivalente aos ‘papeis podres’, que são as revistas e congressos predatórios, sem lastro científico nem re- visão por pares, que publicam qualquer coisa mediante pagamento, gerando assim indicadores para o praticante dessas ações, que cria um capital de prestígio ilegítimo, que só nem sempre é detectado e consequentemente punido. Os casos acumulam-se de forma crescente e podem ser acompanhados, por exemplo, na plataforma Retraction Watch. A intensificação de fraudes mencionadas acima não compõe o quadro completo da situação em que nos encontramos, que alia o que chamamos aqui de neoliberalismo científico ao panorama de uma sociedade de desempenho, consequência direta do neoliberalismo de origem. A promoção do desempenho, no caso o fomento ao aumen- to constante da publicação de artigos dá origem a novos mecanismos perversos para satisfazer esse mercado, como as chamadas “fábricas de artigos”, artigos produzidos muitas vezes programas de inteligência artificial e não autores humanos fantasmas. Se essa prática é conside- rada fraudulenta, não deixa de ser paradoxal que o uso de inteligência artificial, no lugar de autores humanos, seja promovido pelas próprias editoras científicas, como a Springer que já lançou um livro “escrito” dessa forma7. A síntese desse processo vicioso pode ser sintetizada da se- guinte f 1 or . m P a ara ter mais recursos públicos para realizar novas pesquisas o pesquisador tem que publicar mais; 2. Mas não é publicar em qualquer língua e em qualquer Jor- nal / Journals; 3. Tem que ser nos maiores / mais conceituados “Internatio- nals Journals”; 4. Estes Journals tem seus respectivos conselhos / “boards” que definem os temas de interesses que poderão serem publicados; 7 SCHULZ, op. cit., p. 265-266.

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