A produção da narrativa pelo autor docente: a história de um planejamento em ambiente digital 118 Muito poucas narrativas são sobre o fim, a maioria versa sobre começos. As pequenas fagulhas do pensar incitam a chama da história e desvelam um caminho para aquele que ouve, vê, participa e lê. Talvez seja pretensioso afirmar, mas quase tudo carrega uma narrativa. Logo, a sala de aula é também o palco das emoções, experimentações, observações e aventuras não livrescas, ou melhor, das histórias do aprender. Quando principiamos a contação desta narrativa do aprender, não sabemos ainda como será seu término – se é que existe um fim. Apenas imaginamos um trajeto possível. É interessante o quanto isso se aproxima do que, em educação, denominamos de planejamento. Arrisco afirmar que não há narrativa tão boa quanto a planejada, nem planejamento tão encantador quanto aquele que acolhe a narrativa. Neste jogo do entrelaçar-se, não é mesmo esta parceria entre narrativa e planejamento uma história incrível do pensar? Pensar é este arrancar-se das profundezas do sono eterno. Já dizia Arendt (2011, p. 209-210) que “homens que não pensam são comparáveis a sonâmbulos”. Tendo isso emmente, o jogar-se a uma prática pedagógica impensada, desorganizada e distante contextualmente do discente não seria nada mais que “história de faz de conta”. Planejar é uma exigência do ser humano; é um ato de pensar sobre um possível e viável fazer. E como o homem pensa o seu “quefazer”, o planejamento se justifica por si mesmo. A sua necessidade é a sua própria evidência e justificativa (Menegolla; Sant’Anna, 2011, p. 16). O planejar é revisitar constantemente o passado, observar o presente e repaginar o futuro. Um ciclo que nunca se encerra, visto que tampouco finda o pensar. É pouco provável, como menciona Menegolla e Sant’Anna (2011), que alcancemos a façanha de interromper o planejar, pois é parte do próprio viver. Pelo ato de planejar do professor, há também a solidificação de um docente enquanto autor. O autor-pessoa, pessoa física em constante mudança, deixa diferentes registros de um “eu” efêmero nos rascunhos e materiais do seu planejamento. Esta consciência docente transitória, recortada de um momento dos tantos “planejares”, é denominada de “autor-criador” (Bakhtin, 2010).
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz