Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

18 triais), que passavam a formular demandas relacionadas a seus interesses de classe e de cidadãos. A mediação negociada nem sempre fora a solução para os conflitos entre as classes dirigentes e as subalternas, e a intervenção militar era quase uma tradição em nossa história. Naquele ano deu-se mais uma ruptura, com uma nova intervenção militar. Nos anos imediatamente anteriores à intervenção de 1964, o país vivia intensa mobilização em torno da reivindicação de reformas de base, com as quais se esperava avançar na modernização das instituições brasileiras e na superação do atraso da sociedade,marcada por grandes desigualdades regionais e setoriais. A demanda das reformas agrária, urbana, administrativa, tributária, trabalhista, da educação, sobretudo da educação superior, entre outras, desencadeava debates e articulações. Nas universidades, os debates se expandiam para além das questões relativas a esse nível do ensino, abordando a necessidade de transformações estruturais no país. A mobilização popular, sindical e estudantil, e também de segmentos inferiores das forças armadas alertava os altos escalões do edifício de dominação para os riscos de perturbação dos alicerces de sua supremacia. Nesse contexto, cisões eram inevitáveis, acirrando o confronto na sociedade, com repercussão em cada esfera nacional. A intervenção militar de 1964, com decisivo apoio de setores do empresariado, da mídia, do Parlamento, do Judiciário e de alguns segmentos sociais, sobretudo das classes médias, foi a resposta à ameaça anunciada pela mobilização da sociedade brasileira. Ela deu início a 21 anos de autoritarismo, insegurança e subversão jurídicas, prisões arbitrárias, banimentos, torturas, desaparecimentos, mortes, desrespeito aos direitos humanos, cujas raízes se alojaram profundamente na sociedade

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