Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

19 brasileira e hibernaram por um período, no qual se acreditou que a democracia era, enfim, uma conquista irreversível dos brasileiros. Mas a barbárie daqueles dias, que acreditávamos superada, aflorou com fúria em tempos recentes, destruindo rapidamente importantes garantias sociais, econômicas e políticas obtidas ao longo de décadas de lutas. O que já foi, volta a ser. Por essa razão, faz-se urgente resgatar a memória daqueles anos sombrios, nefastos, a fim de criar forças, construir alianças que impeçam sua repetição e lembrar que também na universidade se instalou a iniquidade de um estado autoritário. Na UFRGS, professores foram submetidos ao julgamento de colegas em comissões de inquérito, nas quais o que menos importava eram provas das acusações feitas aos interpelados, acusações baseadas em denúncias vagas e apócrifas. Simulacros de tribunais isentos foram montados e operaram em consonância com as determinações das autoridades que haviam usurpado o poder legítimo em março de 1964. Desse processo resultou a expulsão de 17 professores, via aposentadoria, exoneração ou suspensão de contratos, configurando o primeiro ciclo de repressão explícita na universidade. O segundo ciclo ocorreria em 1969. Por ação direta das autoridades de Brasília, sem a participação de membros da própria universidade, foram demitidos e exonerados 20 professores, em duas listas, divulgadas no Diário Oficial da União, uma em setembro e a outra em outubro. Esses processos foram registrados em um livro1, publicado em 1979 e uma segunda edição, em 2008, ambas pela editora L&PM, de Porto Alegre. 1 AVERBUCK, Ligia et al. Universidade e Repressão: os expurgos na UFRGS. 2. ed., Porto Alegre/ RS: L&PM, 2008.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz