Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

20 As ações repressivas contra alunos e servidores administrativos ainda não foram objeto de investigação. São registros a serem feitos. Para marcar os 50 anos do segundo ciclo de repressão na UFRGS (1969-2019), que afastou arbitrariamente professores da universidade, foi inaugurado em novembro de 2019, no Campus Central, um monumento alusivo para que os acontecimentos de então sejam lembrados, para que não se repitam. Este livro se integra ao resgaste desse evento, apresentando depoimentos de professores expurgados e o registro pictórico de episódios e pessoas que marcaram aqueles dias que, por um lado, envergonham nossa Universidade, mas, por outro, destacam a resistência que não deixou de existir naqueles anos em que o país e a universidade viveram à sombra do autoritarismo. Esta iniciativa visa a relembrar esses episódios e manter viva a memória dos acontecimentos. Memória é lembrança e esquecimento. Quando histórica e coletiva, a memória como lembrança pode ser produzida intencionalmente como narrativa construída com o propósito de responder a interesses de diferentes segmentos que fazem parte de uma sociedade. É a história recontada, então, como versões enviesadas de fatos, cuja veracidade poderia desnudar intenções conflitantes, mascarados com o intuito de se fazer acreditar e aceitar sua legitimidade. Ela pode também ser deliberadamente omitida, quando os acontecimentos que aconteceram não são abonadores da autorrepresentação que a sociedade quer fazer de si mesma. Porém, se as ideias dominantes são aquelas das classes dominantes, a narrativa hegemônica dos fatos corresponde à versão dessas classes, que pretendem fazer dessa versão construída a verdadeira fisionomia dos acontecimentos narrados. O outro lado da memória, o esquecimento, pode ser recurso dessa construção, pode

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