Os expurgos da ditadura na UFRGS: memória, verdade e justiça

23 dos acontecimentos. Ela tem perspectiva e foco, expressa o lugar da fala. Por isso, ela pode comportar diferentes versões, opostas e até conflitantes. Mas a História, como disciplina científica, assim como as demais Ciências Sociais, quando fazem a reconstrução do passado e do presente, ainda que a façam de um ponto de vista arbitrado a partir do qual abordam os fenômenos estudados, não podem prescindir do rigor do método na coleta dos dados, na sua análise e interpretação, sob pena de fabricar panfletos e não produzir conhecimento como resultado de trabalho científico, metodicamente conduzido. Não é uma leitura neutra, mas não pode prescindir da ética e do compromisso intelectual com a verdade e com a evidência dos fatos. A memória de nossa história é, sobretudo, esquecimento. Quando lembrança, é a versão oficial da história, elaborada a partir das e pelas posições superiores do edifício social, a elite econômica, política, social e cultural. Faz-se urgente opor-se a essa manipulação, resgatando-se os elementos fáticos na reconstrução intelectual dos acontecimentos históricos, expondo os verdadeiros interesses que se articulam sob a aparente casualidade de eventos encadeados ao longo do tempo, difundi-los, preservando a memória coletiva, evitando que ela caia no esquecimento. Esta obra tem este compromisso. As novas gerações de professores, servidores administrativos e alunos que trabalham e estudam nesta Universidade desconhecem a brutalidade dos ataques que sobre ela se abateram nos idos de 1960, com o afastamento de professores de modo arbitrário, pelos escalões superiores da estrutura do poder instalado, como em 1969, ou com a participação de membros da própria Universidade, profes-

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